Campesinato e agroecologia: pesquisa participativa identifica os potenciais do uso da adubação verde no manejo de plantas espontâneas
A pesquisa-ação proporciona uma relação sujeito-sujeito entre pesquisador e camponeses na busca de soluções para os problemas

Publicado em: 18 de agosto de 2020 09h08min / Atualizado em: 21 de agosto de 2020 11h08min

A construção da agroecologia depende tanto dos avanços técnico-produtivos quanto do estabelecimento de bases epistemológicas e metodológicas que propiciem a construção coletiva do conhecimento, unindo o saber científico dos pesquisadores e o saber popular dos camponeses através de uma relação sujeito-sujeito.

O manejo de plantas espontâneas através de tecnologias de base agroecológica é um dos principais pontos de discussão entre grupos agroecológicos, e o uso de adubos verdes em sistema de plantio direto oferece uma potencial contribuição.

Assim, a pesquisa desenvolvida por Leonardo Pereira Xavier, sob orientação dos professores Paulo Henrique Mayer e Antônio Inácio Andrioli, no programa de pós-graduação em Agroecologia e Desenvolvimento Rural Sustentável da UFFS – Campus Laranjeiras do Sul, buscou avaliar, de maneira participativa, a eficiência do uso de diferentes espécies de adubação verde no manejo de plantas espontâneas e também discutir o uso da pesquisa-ação na construção do conhecimento agroecológico.

Para o desenvolvimento da pesquisa, foram escolhidos dois grupos de camponeses ligados à Rede Ecovida de Agroecologia. O ciclo da pesquisa-ação, com esses camponeses, foi constituído da identificação e mobilização desses grupos; identificação dos problemas; seminário para planejamento da pesquisa; intervenção e experimentos e, por fim, avaliação. Assim, a experimentação agronômica foi utilizada como parte dos procedimentos metodológicos, sendo uma das etapas do processo, que foi executada por completo na realidade dos camponeses, buscando o envolvimento deles na construção da pesquisa.

A pesquisa experimental foi utilizada como uma etapa da pesquisa-ação, com a implantação de um experimento em cada grupo de camponeses. Nos dois experimentos implantados foram usados os adubos verdes: labe labe (Dolichos lablab), feijão de porco (Canavalia ensiformis), mucuna cinza (Mucuna 18 pruriens), mucuna anã (Mucuna deeringiana), crotalária (Crotalaria breviflora) e mamona (Ricinus communis). Já a mucuna preta (Mucuna aterrima) foi usada apenas no experimento 1 e o milheto (Pennisetum americanum) apenas no experimento 2, havendo uma testemunha em ambos os casos. Dessa forma houve a comparação da capacidade de supressão das plantas espontâneas entre os diferentes adubos verdes usados em sistema de plantio direto e uma testemunha onde o solo foi preparado através do revolvimento com grade de discos.

As espécies de adubos verdes foram cultivadas e acamadas antes da floração, com uso de equipamento rolo faca, já na testemunha o preparo do solo foi realizado através de gradagem, para avaliar a incidência de plantas espontâneas no cultivo subsequente.

Através dos resultados da pesquisa, foi identificado que a Mucuna preta e cinza apresentaram potencial de redução das plantas espontâneas ao ponto de poder dispensar o uso de outros métodos de controle de plantas espontâneas durante o ciclo de grãos, como o milho e feijão. A Mucuna anã e o Milheto também demonstraram significativa redução das plantas espontâneas.

O pesquisador acredita que, do ponto de vista metodológico, a pesquisa-ação se mostrou adequada à construção coletiva do conhecimento, preconizada pelo paradigma agroecológico, proporcionando uma relação sujeito-sujeito entre pesquisador e camponeses na busca de soluções para os problemas concretos vivenciados por eles.

Acesse aqui a pesquisa completa.