Direção do Campus Chapecó está em transição, e cerimônia de posse será em 10 de agosto
Em entrevista, professora Adriana fala sobre o processo de transição e planos para a gestão

Publicado em: 05 de julho de 2023 12h07min / Atualizado em: 05 de julho de 2023 15h07min

A cerimônia de posse da nova diretora da UFFS – Campus Chapecó, professora Adriana Remião Luzardo, já tem data para ocorrer: dia 10 de agosto, às 19h.

Enquanto as equipes organizam o evento, a transição já acontece. Depois do fim da consulta prévia para o cargo, cuja votação no segundo turno aconteceu em 6 de junho, a professora Adriana se apropria, com profundidade e detalhamento, do andamento da totalidade das atividades e dos processos do Campus.

Conforme a professora, o andamento da transição com a atual equipe, da qual o diretor, professor Roberto Dall’Agnol, está à frente, está muito tranquilo; embora também esteja bastante intenso.

Conversamos com a professora sobre essa fase e sobre as perspectivas para os próximos quatro anos.

 - Professora, como você vinha comentando, muitas demandas já foram levantadas, inclusive durante a campanha. Como é que se pensa a gestão compartilhada?

Apostamos nesse método de trabalho, que é a gestão compartilhada. Ela se faz utilizando uma ferramenta ou, digamos, uma tecnologia leve: o planejamento participativo, que é justamente quando a gente elabora metas junto com os atores que fazem parte do cenário institucional e que estão também na comunidade, a partir do levantamento de necessidades. Fizemos isso durante a campanha, foi como um estudo piloto, digamos assim, que deu certo.
Fomos nos reunindo com os segmentos; com os estudantes, principalmente, porque eles vinham com muitas demandas, aprofundando sobre as necessidades em relação ao que eles passam. Isso foi muito significativo e qualificou muito a campanha; mas também já qualificou para o que pretendemos fazer na gestão.

Foi uma campanha bastante propositiva e produtiva, foi praticamente mais um trabalho, dentro do nosso rol de atividades da Universidade.
Pretendemos fortalecer os encontros, as reuniões programadas entre os setores e os segmentos que fazem parte da comunidade universitária e, juntos, levantarmos demandas. E essa programação inclui a construção de objetivos, que se transformam em metas, que têm prazo para acontecer. Então, no planejamento a gente já estabelece prazo e vislumbra um momento para alcançar aquele objetivo; e, se não formos alcançar, a gente novamente senta, replaneja e repactua. Esse processo tem um momento de pactuação e que inclusive pode ser assinado de ambas as partes se as pessoas assim quiserem.

O importante disso tudo é a gente fazer esse levantamento e esse olhar tendo como base o conhecimento teórico e prático, as políticas institucionais, o acúmulo construído a partir das parcerias com a comunidade, com a sociedade civil organizada, olhando para o nosso PDI, os nossos documentos oficiais que traduzem as diretrizes da instituição.

Queremos criar fóruns com esses segmentos para garantir essa comunicação sempre contínua, para que possamos estar sempre analisando essas demandas e programando o que pretendemos realizar, ter um canal aberto realmente. Precisamos construir melhor essa dinâmica com os estudantes. Por mais que os estudantes tenham vaga, tenham representação nos conselhos, a gente precisa ter um outro fórum com um grupo maior de estudantes, envolver o DCE, envolver os centros acadêmicos, ter um espaço de diálogo com as ligas acadêmicas, com as atléticas e talvez outros grupos que possam surgir.

Durante a campanha, tivemos contato com grupos que se colocam como minorias na Universidade, e minorias que se sentem excluídas em determinados momentos: a exemplo dos estudantes indígenas, os imigrantes, a comunidade negra e a comunidade LGBTQIAPN+. E acredito que tenham outros grupos, como os grupos que discutem as questões de gênero. Muitas vezes, quando mulheres estão num espaço de destaque, podem haver situações em que se identifica um pouco como machismo, em alguns momentos até como misoginia. Esses grupos precisam ter mais visibilidade. Queremos promover essa integração, porque a gente precisa fomentar esse diálogo. A universidade é isso, é uma diversidade de ideias, então precisamos dar o mesmo espaço a todos esses atores.

 

 - Você mencionou também que o trabalho começou muito antes da campanha e seguiu na campanha. No momento atual, que movimentos você e o grupo vêm fazendo no sentido de ter um raio  x do Campus e já possíveis encaminhamentos a partir disso?

Já iniciamos o processo de transição com a equipe atual, a gestão atual que nos recebeu muito bem e que está já nos incluindo na demanda que continua recebendo, e ao mesmo tempo, compartilhando conosco as normas e rotinas que eles têm sob seu gerenciamento. Está sendo uma transição bastante tranquila, mas bastante intensa também, porque a nossa ideia é nos apropriarmos de tudo que for possível antes da posse.

Estamos, levantando e conhecendo alguns fluxos que não tínhamos contato antes. A estratégia está sendo passar nos setores, marcar reuniões, estar com cada servidor, levantando necessidades e também possíveis encaminhamentos que estão em transição nesse período, e tomar decisões com a atual gestão. Há algumas coisas sendo decididas agora (não são grandes mudanças, mais decisões do dia a dia), como reuniões de Conselho de Campus, do Conselho Comunitário (que deve mudar também logo em seguida).

São várias frentes que vamos nos envolvendo, o grupo da Unipopular e os coletivos que nos apoiaram na campanha do segundo turno. Acredito que em breve vamos definir a equipe, mas estamos trabalhando com o grupo da gestão atual, além de alguns colegas que fazem parte da equipe de transição, em parceria já com o grupo da Reitoria que venceu. Estamos, com o passar dos dias, gradativamente nos apropriando da rotina da gestão do campus. Esse momento é de ouvir as demandas e até compreender exatamente tudo que é feito, porque às vezes a gente tem uma ideia, mas não sabe a fundo, tudo que cada setor faz, o que está a cargo de cada pessoa.

Outra questão muito relevante, também, é a relação do Campus com a Reitoria. Nessas primeiras semanas de transição, já pudemos perceber que muitas questões que são chave no Campus têm relação com a Reitoria.

Os próprios editais, que depois geram licitações, que depois geram os contratos: a operacionalização e a fiscalização ficam com o Campus. No momento inicial, de construção dos editais, é importante que o Campus participe, para buscar maior consonância entre as atividades, pois a execução se dará no Campus.

 

 - “Juntar” essas pontas, essa é a ideia?

O planejamento participativo, ou melhor, planejamento estratégico participativo ascendente, prevê justamente ouvir os envolvidos, de ponta a ponta, valorizando o papel de quem está na base. Então, para fazer as normativas, as estratégias e as políticas macro, é necessário saber o que está acontecendo lá na ponta, com quem está executando. Quando falamos em gestão compartilhada, o pessoal perguntava; “o que é isso, é todo mundo se juntar, ouvir todo mundo, é uma questão humanizada?”.

Também é isso, mas ele é muito mais método do que qualquer outra coisa, é uma forma de fazer o planejamento em que se empodera e dá autonomia; e por isso que a gente usava a base teórica de Paulo Freire e outros da pedagogia. A gente entende que se pode empoderar, dar autonomia, mas é necessário construir junto, pactuando. O Campus tem que estar conectado com isso. Queremos estar em sintonia com a Reitoria, porque a Reitoria fez a proposta, também, de gestão participativa, é o mesmo princípio.

Todas e todos precisam saber qual a missão, a visão e os valores da instituição. Se não soubermos, cada um faz o que acha certo. Vencemos a consulta prévia com um projeto de Universidade Popular, mas vamos ter que mostrar como isso acontece, para além do acesso, demonstrando o que é a característica “popular” e a horizontalidade que deve acompanhá-la.

 

 - Que pontos específicos podemos citar que estão em discussão no Campus?

O Estatuto do Campus está em discussão, em construção; e a nova gestão vai dar seguimento. Outro ponto também é em relação aos espaços.

Algumas empresas não entregaram o trabalho que se propuseram a fazer, como a do estacionamento. Acredito que daquela quadra poliesportiva também. Nós vamos rever agora toda essa parte de esporte e lazer dos estudantes, talvez seja uma oportunidade, porque nesse planejamento a gente também não trabalha só com demandas que são problemas, a gente trabalha também com oportunidades. Acho que é uma oportunidade de começar do zero com a estrutura que a gente imagina que os estudantes possam ter, porque essa quadra foi uma emenda parlamentar que foi dada à Universidade, mas era uma quadra bem aquém das necessidades das atléticas. Também acredito que faltaria espaço para os interesses dos estudantes, então é uma oportunidade de recomeçar.

Estamos aguardando também a finalização do prédio do almoxarifado e patrimônio. Assim que for concluído também vamos liberar os espaços no bloco C. Com isso a gente consegue pensar em espaços que hoje não existem para os estudantes, ou estão fragmentados, diluídos pelo Campus, como os centros acadêmicos estarem junto do DCE; penso em um espaço para as atléticas também, para as ligas. Acho que com toda essa realocação da cantina e do prédio do patrimônio e almoxarifado, vai ser possível. Também há outros espaços que professores vêm requerendo para qualificar suas atividades.

 

E quanto à relação com a comunidade regional: o que se pensa para aprimorar essas conversas e interações?

Queremos trazer a comunidade no planejamento, fazer, digamos, um observatório dessas contribuições, das comunidades como um todo. Além das organizações que estiveram junto na criação dessa universidade ao longo desses anos, outros atores foram se envolvendo com a universidade, por meio de experiências de parceria com projetos de ensino, pesquisa, extensão, com convênios e estágios.

Alguns desses parceiros estão no Conselho Comunitário, no Conselho Estratégico Social e outros que ainda precisam ser envolvidos nesse processo. Então, a ideia é ir dialogando com todos e fazer um mapeamento de como eles participam hoje e planejar ações em parceria para os próximos anos de gestão.

Penso que é possível ampliar e qualificar as representações da sociedade que podem fazer essa ponte com a Instituição.

 

- Mais algo que deseje acrescentar neste momento?

Quero mencionar a valorização dos servidores, que é algo que considero muito importante. Queremos fazer essa valorização iniciando pela remodelagem de fluxos e o redimensionamento de pessoal, com atenção ao deficit de TAEs nos setores, além da necessidade de estudos que avaliem o quantitativo de docentes por cursos. Temos boas perspectivas de novos códigos de vaga e mais recursos, reposicionamento de orçamento, com emendas parlamentares e aporte governamental. Penso que o momento político e administrativo que estamos vivendo no país, de retomada da democracia e valorização do ensino superior, também vai nos ajudar a concretizar nossos planos.