Relatos sobre a Ditadura Militar são apresentados em evento no Campus Realeza
No saguão do Campus Realeza, estão em exposição fotografias e documentos que retratam do desbravamento da região Sudoeste, assim como a repressão vivida pelos movimentos sociais nos anos de chumbo.

Publicado em: 28 de abril de 2014 10h04min / Atualizado em: 16 de março de 2017 08h03min

A Universidade Federal da Fronteira Sul (UFFS) – Campus Realeza foi um dos pontos de parada da Caravana da Agricultura Familiar, promovida pela Federação dos Trabalhadores e das Trabalhadoras na Agricultura Familiar do Estado do Paraná (Fetraf/PR). O evento, realizado na noite da última sexta-feira (25), buscou trazer relatos de líderes do movimento da agricultura familiar que sofreram com a repressão da Ditadura Militar no Sudoeste paranaense. A Caravana foi iniciada no dia 21 de abril, sendo o encerramento no último sábado (26), em Capanema.

Segundo o diretor do Campus Realeza, José Oto Konzen, a UFFS é uma instituição que faz parte da trajetória de lutas da agricultura familiar e de outros atores sociais, por isso a importância de realizar um evento que exponha parte dessa história. “Ao longo dessa trajetória, tivemos a presença de forças repressivas que viam nesses movimentos uma espécie de ameaça às formas de dominação, de exploração e de hierarquização social. Isso estava sendo contraposto com experiências por vezes tímidas, mas importantes para construção de um modelo social mais justo e democrático. Esta instituição é fruto dessa luta pela democratização e produção de conhecimento”, enfatizou.

No saguão do Campus Realeza, estão em exposição fotografias e documentos que retratam do desbravamento da região Sudoeste, assim como a repressão vivida pelos movimentos sociais nos anos de chumbo. “Além das fotos, trouxemos cópias de documentos oficiais da antiga Delegacia de Ordem Política e Social [Dops], entre outros, em que mostram como os agentes repressores atuavam na região. Entidades como a Associação de Estudos, Orientação e Assistência Rural [ASSESOAR], foi uma das inúmeras investigadas”, comenta o presidente do Conselho Comunitário da UFFS – Campus Realeza, Inácio José Werle.

Relatos

Para os depoimentos, foram convidados a presidente da Assesoar, Ivet Bianchini, o professor da UFFS – Campus Realeza, Antonio Marcos Myskiw, o representante da luta dos movimentos sociais no Sudoeste, senhor Jaci Poli, o representante das primeiras lideranças sindicais e primeiro deputado federal das entidades sociais da região, Pedro Toneli, o representante da classe dos agricultores familiares, Altair José Anzilieiro, e o vice-presidente da Central Única dos Trabalhadores do Paraná (CUT/PR), Márcio Kieller, também membro da Comissão Estadual da Verdade.

Os participantes fizeram uma breve contextualização histórica sobre o período da Ditadura Militar, relatando como ocorreu o golpe em 1964, as ações dos presidentes da época, os partidos políticos, as perseguições e torturas sofridas por militantes, as ações dos sindicatos, assim com as investigações da Comissão Nacional da Verdade.

Morador do município de Nova Prata do Iguaçu há 54 anos, Altair José Anzilieiro, contou como foi a vivência do golpe no Exército brasileiro, pois ele havia ingressado nas Forças Armadas em 1963. Após ter baixa, Altair começou a participar de discussões sobre movimentos sindicais na região Sudoeste. “As reuniões aconteciam secretamente e com poucas pessoas, não havia nenhum registro, pois se 'eles' [militares] descobrissem a coisa era feia”.

Pesquisa

Sobre o tema, o professor da UFFS – Campus Realeza, Antonio Marcos Myskiw, desenvolve o Projeto de pesquisa “O Sudoeste do Paraná nos arquivos da DOPS-PR (1964-1985)”. O estudo histórico é feito a partir do acervo documental da Delegacia de Ordem Política e Social (DOPS) do Paraná, com ênfase nos conflitos agrários, nas práticas políticas em períodos de campanha eleitoral, na violência, nas prisões e torturas praticadas por militares, nas revoltas e resistências (urbanas e rurais) e na presença de grupos subversivos (supostos comunistas e Grupo dos Onze) na região de fronteira com a Argentina. Com a finalização do estudo, o objetivo é fazer um livro narrando os principais episódios ocorridos nos 21 anos de Ditadura Militar na região Sudoeste do Paraná.

Segundo Myskiw, até agora foi realizado o levantamento documental no arquivo público do DOPS/PR e do Arquivo Nacional. “A partir da leitura dos documentos é possível perceber que o Sudoeste é um cenário de conflito latente, de mortes e de resistências à Ditadura Militar, bem como um lugar de atuação da Operação Condor, que era um grupo que concentrava um conjunto de ações. Eles investigavam, torturavam, matavam e eliminavam os corpos de militantes políticos na América do Sul”.

Participações

Entre as autoridades que participaram do evento, estavam o prefeito de Realeza, Milton Andreolli, a deputada estadual, Luciana Rafagnin (PR), o coordenador da Fetraf/PR, Neveraldo Oliboni, e o representante do deputado federal Assis Couto (PT), Celso Mumbach.