Livro, com acesso livre online, traz relatos de vivências no VER-SUS
Um dos organizadores é professor da UFFS – Campus Chapecó

Publicado em: 08 de fevereiro de 2018 11h02min / Atualizado em: 08 de fevereiro de 2018 15h02min

De experiências plurais, cheias de riqueza de novas ideias, contatos e possibilidades, surgiu um livro – um registro de estudos, impressões e vivências sobre o Projeto VER-SUS no estado. "VER-SUS Santa Catarina: itinerários (trans) formadores em saúde" é uma obra coletiva, construída ao longo de um ano, com 58 autores versusianos, e organizada pelo professor da UFFS – Campus Chapecó, Cláudio Claudino da Silva Filho, pelo professor da Univali, Carlos Alberto Garcia Júnior, e pelo professor da UFSC, Douglas Francisco Kovaleski.

 

O livro, financiado pelo Ministério da Saúde, com recurso gerenciado pela Fundação de Ensino e Engenharia de Santa Catarina (FEESC) da UFSC, tem 34 capítulos. Foram impressas mil cópias para distribuição aos autores e a bibliotecas de universidades parceiras do VER-SUS, mas, para viabilizar a leitura por muitas pessoas, foi produzido um e-book de livre acesso.

Conforme o professor Cláudio, a ideia surgiu pela vontade de reunir as publicações que refletem as experiências com o VER-SUS em Santa Catarina e que foram se destacando em eventos científicos nacionais e internacionais e em revistas científicas de diversas áreas. “Diversos relatos dos versusianos que passavam pelo projeto nos chamaram a atenção de que esta tinha sido uma experiência divisora de águas em suas vidas pessoais, estudantis e profissionais. Emergiu então o desejo de compilar, em uma produção coletiva como o VER-SUS, as experiências ocorridas em solo catarinense, vivenciadas por estudantes e profissionais de diversas partes do país, sobretudo da região Sul”, ressaltou.

A chamada para a submissão de capítulos saiu em outubro de 2016. “Recebemos vários capítulos das diversas regiões do estado e selecionamos ao final 34 capítulos escritos por 58 autores. O livro foi prefaciado pelo professor Mauro Serapioni, grande estudioso europeu de Saúde Coletiva e Políticas Públicas, vinculado à Universidade de Coimbra”. A composição da capa também foi feita de modo coletivo, após outra chamada pública.

A seleção democrática do material que entrou no livro, conforme ele, foi difícil de ser realizada. Buscaram, desde a idealização até a revisão, a permanência do caráter de protagonismo do movimento estudantil. Outro desafio apontado pelo professor foi “romper com a lógica academicista e produtivista, infelizmente inflada pelos órgãos de fomento brasileiros, na qual um livro é formado apenas por conteúdos formais ou por pesquisas de campo, alheio a outras formas de se produzir ciência e que sempre foram/são uma parte significativa da experiência revolucionária do VER-SUS na vida daqueles/as estudantes, como as manifestações artístico-culturais alusivas a uma visão inovadora de promoção e educação em saúde”.

Outra questão de destaque, para o professor Cláudio, foi a quebra do “mito, de que um capítulo robusto e reflexivo seria atrelado à obrigatoriedade de ter um/uma professor orientador doutor assinando como autor principal. Demonstramos, assim, por que o VER-SUS, dentre todos os dispositivos formativos, é aquele onde o envolvimento majoritário de estudantes não faz cair sua qualidade ou seu comprometimento ético-político-pedagógico”.

O livro já foi lançado em dois momentos. O primeiro no dia 6 de dezembro de 2017 durante o IV Seminário PETGraduaSUS/III Seminário VerSUS, promovido pela Universidade do Vale do Itajaí (UNIVALI), em Itajaí. O segundo foi em um evento organizado pela própria UFFS – Campus Chapecó: no “I Congresso Internacional de Políticas Públicas de Saúde: Em Defesa do Sistema Universal de Saúde (CIPPS)”, também em dezembro do último ano. Além disso, foi divulgado no Simpósio Internacional de Fronteiras da Educação de Profissionais da Saúde de 2017, em parceria com o Hospital Sírio-Libanês, via Programa de Apoio ao Desenvolvimento Institucional do Sistema único de Saúde (PROADI-SUS). Os autores estão negociando o lançamento do livro em pelo menos quatro eventos nacionais e internacionais nesse ano.

Defesa do SUS, formação e sociedade

Leia a entrevista com o professor Cláudio sobre o livro, as vivências e a importância do Sistema Único de Saúde e sua defesa.


- Qual a importância desse compilado de experiências para os próximos programas e para a militância que se volta a garantir os direitos relacionados à saúde?

As vivências e experiências relatadas são valiosas no sentido de demonstrar como podemos e devemos formar, muito além de bons profissionais de saúde, também excelentes militantes por um SUS de qualidade, sobretudo em uma época onde claramente o governo federal parece não compreender e até mesmo lutar contra o sistema público de saúde que ele próprio deveria gerir e defender. E estamos falando de militância suprapartidária por um SUS enquanto direito constitucional e conquista do povo brasileiro. Implicamos diversos estudantes ainda mais em seus movimentos estudantis, universitários ou não, e fortalecemos a relação entre a academia e os movimentos sociais, problematizando inclusive a relação do movimento estudantil como movimento social. Nas reflexões que o livro traz, fica evidente que os estudantes começam a entender na prática, visitando os serviços, conversando e olhando no olho dos usuários e trabalhadores do SUS, algo já sinalizado pelos estudiosos em saúde coletiva: a reforma sanitária não acabou, pois ela não dizia respeito apenas à implantação de um sistema público e universal de saúde, mas sobretudo a um projeto de sociedade que possui como seus horizontes um país mais justo e menos desigual, sendo os estudantes e futuros profissionais de saúde atores sociais decisivos nessa concretização.


- Em que medida você acredita que os relatos demonstram a magnitude, a relevância e a necessidade do VERSUS?

Seria ideal que não precisássemos de projetos para “relembrar” para estudantes que o SUS deve ser o palco principal de sua formação, aquele que não só ajuda a formar bons profissionais, mas para onde todos devem se voltar quando formados, independente se a formação é em instituições públicas ou privadas. Contudo, mesmo com avanços consideráveis a partir de iniciativas formativas governamentais e experiências inovadoras país afora, diversos estudos vem apontando insistentemente esta lacuna exponencial entre os profissionais que continuamos formando e aqueles que o país, o sistema de saúde, e os usuários realmente necessitam. Assim como precisamos, e muito, de iniciativas que reconciliem o SUS da formação dos profissionais de saúde, os próprios estudantes enfatizam bastante em praticamente todas as linhas desse livro que o VER-SUS é uma decisiva e ainda necessária. Eles falam, seja poeticamente ou em caráter mais formal, que foram apresentados a um SUS que era visto discretamente e de outro modo na formação, e agora o enxergam para além de um “grande plano de saúde”, mas como maior direito do povo brasileiro. Assim, para os autores, o projeto deve continuar e ser cada vez mais ampliado, pois todos os estudantes deveriam ter esse mesmo contato sensibilizador com a realidade social que atuarão em um futuro próximo.


- Que reflexões e contribuições do livro você considera mais relevantes para a sociedade?

Considero que o conjunto de reflexões do livro demonstra claramente que apesar de algumas lacunas inegáveis, nosso sistema público continua cumprindo um papel insubstituível de promover saúde e cuidar de milhões de brasileiros de um modo integral e ainda consegue conduzir, de forma robusta, a formação em saúde quando orientada para este fim. Trazemos como possibilidade que o fortalecimento da integração ensino-serviço-comunidade, mediante dispositivos formativos como o VER-SUS, e além deles, pelas experiências curriculares em si, seja um caminho não só para formarmos profissionais de excelência, como também para aperfeiçoarmos o SUS e prestarmos um cuidado efetivamente humanizado aos usuários.