Em entrevista, intercambistas que estão na Argentina relatam suas experiências
Alunos de Pedagogia foram contemplados através do Programa de Desenvolvimento Acadêmico Abdias Nascimento

Publicado em: 05 de julho de 2017 13h07min / Atualizado em: 06 de julho de 2017 08h07min

A Universidade Federal da Fronteira Sul (UFFS) – Campus Erechim está com dois acadêmicos do curso de Pedagogia fazendo parte da Graduação na Argentina. Os alunos Jonas Bertolassi e Elisama de Farias Soares foram selecionados através de edital do Programa de Desenvolvimento Acadêmico Abdias Nascimento. Desde o início do semestre, estão na Universidad Nacional de Misiones (UNaM), localizada na cidade de Posadas, capital da província de Misiones, onde ficam até o mês de dezembro.

É pelo intercâmbio que os dois acadêmicos participam também de um projeto de pesquisa que identificará, em diferentes Instituições de Ensino Superior, questões referentes a ações afirmativas e de inclusão. Coordenado pela professora Adriana Loss, do curso de Pedagogia da UFFS – Campus Erechim, o projeto incluirá também a Unioeste, a Universidade de Passo Fundo (UPF), o Instituto de Educação da Universidade de Lisboa (Portugal) e a Universidade de Málaga (Espanha). Até o final do projeto, mais quatro estudantes de diferentes cursos participarão do intercâmbio.

Na entrevista abaixo, feita por e-mail, Jonas e Elisama contam um pouco das suas experiências no intercâmbio, sobre a estrutura da UNaM, entre outros assuntos. Confira.

UFFS: Como vocês ficaram sabendo da oportunidade de intercâmbio?

Elisama: Foi através de um Grupo de Pesquisa vinculado à CAPES, do qual eu participo, e também por meio da divulgação no site da Universidade e no Informativo Semanal (que todos recebem por e-mail), falando sobre o Projeto de Desenvolvimento Acadêmico Abdias Nascimento e o processo seletivo para o intercâmbio.

Jonas: Por aproximadamente três anos fui bolsista de Extensão e Pesquisa. Isso me possibilitou vivenciar de forma intensa os diferentes espaços da Universidade, bem como me manter atualizado sobre as oportunidades oferecidas pela Instituição. Fiquei sabendo da oportunidade do intercâmbio por meio da atuação como bolsista. Vi o edital de seleção no site da Universidade.

A ideia de cursar parte da graduação em outro país sempre foi um objetivo de vocês?

Elisama: Sim. Quando comecei a viver no contexto universitário, eu comecei a observar o mundo com um novo olhar. Essa gama de novas possibilidades despertou o meu interesse em adquirir novas experiências. Passei a vivenciar a universidade aproveitando todas as oportunidades de aprendizagens possíveis, até chegar ao intercâmbio.

Jonas: Não. Essa ideia parecia algo que estava muito além das minhas possibilidades. Achava que cursar parte da Graduação no exterior fosse uma experiência voltada para pessoas que tiveram oportunidades de escolarização mais amplas. No entanto, durante a Graduação, esse ponto de vista foi sendo modificado, visto que a UFFS tem em sua essência uma política que visa à ascensão intelectual e social de seus alunos. Qualquer acadêmico da UFFS tem as condições de concorrer a uma vaga de intercâmbio. Conseguir ou não é uma questão de dedicação.

Como é estudar na UNaM? Quais as principais impressões?

Elisama: A Universidad Nacional de Misiones (UNaM) é uma universidade pública e gratuita. Em Posadas tem aproximadamente 4 mil alunos. Os acadêmicos atuam em unidades divididas por centros ou faculdades localizadas em diferentes pontos da cidade e algumas, ainda, em outros municípios. Para além dessa organização institucional, disciplinar, espacial e física diferenciada, houve um choque de cultura bem intenso. Sinto que, no contexto universitário da UNaM, não há competitividade. De uma pessoa querer ser mais que a outra ou aparentar um poder aquisitivo maior, por exemplo. Importante falar também sobre a forma de ingresso na universidade. No Brasil é pelo ENEM, com uma ampla concorrência, mesmo com as cotas. Aqui é só escolher o curso e se inscrever, e as vagas são ilimitadas. Em um curso que no Brasil tem 50 alunos em sala, aqui tem cerca de 155.

Jonas: Tive um estranhamento inicial em relação à forma organizacional, espacial e cultural. O perfil dos alunos é o mesmo dos estudantes da UFFS. Outro diferencial é que na UNaM existem mais movimentos sociais, os estudantes passam a maior parte do tempo dentro da universidade envolvidos em projetos e pesquisas. Todos têm a oportunidade de saírem bilíngues, porque, concomitantemente com a Graduação, os alunos podem escolher um dos quatro idiomas que são ofertados gratuitamente: Português, Inglês, Francês e Italiano. É uma universidade que, da mesma forma que a UFFS, investe muito em Ensino, Pesquisa e Extensão. A maioria das disciplinas específicas é dividida em duas partes: teórica e prática. Por exemplo: os alunos das licenciaturas estão em constante contato com as escolas, os da área da saúde com os hospitais e clínicas, e os estudantes de ciências exatas também em suas áreas.

Como surgiu o interesse de vocês pela Pedagogia?

Elisama: Em 2012, minha tia, hoje pedagoga formada pela UFFS, começou a fazer o curso e me falou como era. Daí surgiu meu interesse. Quando comecei, cheguei a pensar que não era o que eu queria, mas o tempo foi passando e fui me identificando cada vez mais com o objeto de estudo da Pedagogia, que é a educação.

Jonas: O interesse em cursar Pedagogia surgiu a partir de meus pressupostos particulares, voltados à compreensão dos diferentes estágios da infância, como questões relacionadas ao comportamento, socialização, pensamento, formação da personalidade, entre outras esferas relacionadas ao desenvolvimento infantil. Outro ponto que me motivou foi a esfera de possibilidades que a formação possibilita.

Que tipo de aprendizado vocês acreditam que o intercâmbio possa proporcionar?

Elisama: Novas experiências, conhecimento das culturas argentinas, falar e escrever fluentemente o idioma espanhol. Como pretendo seguir carreira acadêmica, acredito que essa experiência servirá como base para estudos futuros no âmbito da educação. Considero que o mais importante é o conhecimento que estou adquirindo na área da Educação Especial.

Jonas: Ao concluir a Graduação, também tenho intenção de seguir carreira acadêmica. Para isso é necessário muito estudo e dedicação, e vejo no intercâmbio uma porta para minha ascensão nessa área, no sentido de ampliação de meus horizontes intelectuais. Além disso, almejo ampliar meus conhecimentos sobre Educação Especial, alcançando o suporte necessário para compreender de maneira mais aprofundada as distintas especificidades de alunos com deficiências físicas, intelectuais e cognitivas. Outra vantagem é a fluência escrita e oral no idioma Espanhol, considerando que todos os trabalhos e textos solicitados são na Língua Espanhola. Sem falar na ampliação da minha bagagem cultural, por meio da convivência com as diferentes culturas peculiares do território argentino.