Publicado em: 01 de junho de 2022 12h06min / Atualizado em: 01 de junho de 2022 13h06min
Uma pesquisa desenvolvida na UFFS – Campus Chapecó encontrou achados inéditos com relação à covid-19. Pacientes com diferentes graus de acometimento da doença tiveram alterações no sistema purinérgico, com destaque ao aumento significativo do ATP extracelular.
O artigo “High levels of extracellular ATP lead to different inflammatory responses in COVID-19 patients according to the severity” (Altos níveis de ATP extracelular levam a diferentes respostas inflamatórias em pacientes com COVID-19 de acordo com a gravidade), publicado recentemente em revista de Qualis A1, demonstra que a chamada “tempestade de citocina” (que gera uma inflamação intensa) também pode ser provocada pela alteração no sistema purinérgico, algo que até então não havia sido estudado.
Para chegar a essa conclusão, o grupo, que envolveu 17 pesquisadores da UFFS – Campus Chapecó (que teve as professoras Zuleide Ignácio, Margarete Dulce Bagatini e Gabriela Gonçalves de Oliveira à frente), coletou amostras de pacientes controle (sem a doença), e pacientes com covid-19 com graus de acometimento leve, moderado e grave. Em laboratório, avaliaram a dosagem de ATP extracelular celular, marcadores do sistema purinérgico e citocinas (inflamatórias e anti-inflamatórias).
A alteração mais significativa, conforme a professora Margarete Dulce Bagatini, foi o aumento considerável de ATP extracelular nos pacientes de covid-19. Verificou-se que quanto maior a severidade da doença, maiores os níveis de ATP extracelular que os pacientes apresentavam.
De acordo com a professora, acredita-se que o aumento de ATP extracelular seja causado pela degradação celular, ou seja, pelo rompimento e morte de células, podendo levar à ativação do P2X7 e toda a cascata de aumento de citocinas.
“Falou-se muito em tempestade de citocina, interleucina-6, mas quando fomos analisar o sistema purinérgico, que tem uma relação direta com a inflamação, observamos que essa via também estava alterada”.
Segundo a professora, o aumento de ATP extracelular em pacientes com covid-19 está diretamente relacionado com os níveis de citocinas e com a interleucina-6, interleucina-2 e interleucina-10. Com o estudo, os pesquisadores constataram que tanto interleucinas pró-inflamatórias quanto anti-inflamatórias aumentaram em pacientes com COVID-19, o que significa uma desregulação do sistema imune.
A professora Zuleide aponta que não havia na literatura a sugestão de interferência da covid-19 no sistema purinérgico. As constatações da pesquisa “possibilitam outros trabalhos, sugerindo estratégias farmacológicas nesta via”, pondera a professora.
A pesquisa é um dos desdobramentos de um grande estudo multicêntrico relacionado à covid-19, “Investigação de marcadores de dano neuronal e neuroinflamatórios e suas relações com transtornos neuropsiquiátricos em sujeitos positivos para covid-19”.
O projeto, aprovado em edital do CNPq, iniciou na Unesc, em Criciúma, sob a coordenação da pesquisadora do Laboratório de Psiquiatria Translacional, Gislaine Zilli Réus. O estudo foi selecionado e conta com fomento do CNPq, pela Chamada MCTIC/CNPq/FNDCT/MS/SCTIE/Decit No 07/2020 – Pesquisas para enfrentamento da covid-19, suas consequências e outras síndromes respiratórias agudas graves.
Na UFFS – Campus Chapecó, a partir da grande pesquisa, vários outros estudos vêm sendo desenvolvidos. Além do artigo experimental com as enzimas, outro sete artigos de revisão já foram publicados, e outros dois devem sair em breve.
Além das pesquisas correlacionando covid-19 e sistema purinérgico, as quais a professora Margarete coordena, há outras duas frentes: investigação de expressão gênica, com a professora Gabriela, e de sistema nervoso, com a professora Zuleide.
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