Publicado em: 15 de agosto de 2017 13h08min / Atualizado em: 15 de agosto de 2017 14h08min
Comemorado anualmente em 16 de agosto, o Dia do Filósofo é uma data propícia para a reflexão não apenas da formação do profissional de Filosofia, mas também sobre como este campo de trabalho pode contribuir em diferentes espaços da sociedade. A atuação em instituições de ensino, organizações governamentais e não governamentais ou ainda em consultorias para projetos de políticas públicas são apenas alguns exemplos de como o profissional pode auxiliar no desenvolvimento social.
Conversamos com dois docentes do curso de Filosofia – Licenciatura da Universidade Federal da Fronteira Sul (UFFS) – Campus Erechim para que discorressem sobre essas questões. Os professores Marcio Soares e Celso Eidt falam sobre temas como a importância do ensino de Filosofia na Educação Básica – tendo como perspectiva as últimas mudanças no currículo comum; possíveis contribuições deste profissional em tempos de crise ética e moral; entre outros assuntos.
Importância da Filosofia
Prof. Celso: “A Filosofia pode constituir um campo teórico cuja contribuição se diferencia dos demais saberes. Um dos seus atributos é a capacidade de transitar pelos múltiplos territórios do saber, dialogar e interagir com as diversas ciências, buscar pontos de contato com outras disciplinas, contextualizar e relacionar o saber institucionalizado com a cultura humana em geral. Desta forma, trabalha na articulação e sistematização dos saberes em sua totalidade.”
Prof. Marcio: “Nos séculos XIX e XX emanciparam-se da Filosofia disciplinas no campo das Ciências Humanas, como a Psicologia, a Antropologia, as Ciências Sociais, a Ciência política, a Linguística. Portanto, hoje o escopo da Filosofia e o rol de assuntos exclusivamente filosóficos, se ainda existem, é bastante reduzido em relação ao passado. Mesmo assim, a Filosofia ainda ocupa espaço importante na construção do conhecimento e na reflexão sobre os mais diversos fenômenos culturais, tais como as artes, a Literatura, as questões éticas e morais, questões políticas e educacionais etc. Parece-me que a Filosofia pode oferecer maior contribuição nas questões sobre as quais as ciências não têm muito o que dizer (tais como as questões éticas e morais), ainda que talvez não possamos mais falar de temas exclusivos da Filosofia em nossa época.”
Especialistas do debate público
Prof. Marcio: “O profissional em Filosofia tanto é um especialista, em diferentes níveis, nos temas, autores ou campos disciplinares da Tradição Filosófica do passado e do presente, quanto pode ser um intelectual que, tendo formação filosófica, propõe-se ao debate público de questões relevantes e da ordem do dia em nossa época, tais como as questões éticas e morais, estéticas, de construção do conhecimento, manifestações culturais, formas de sociabilidade, questões políticas e educacionais etc.”
Atuação profissional
Prof. Marcio: “Os profissionais tanto podem atuar como palestrantes e autores, no mercado editorial, quanto podem ocupar espaço na mídia. Geralmente o profissional em Filosofia acaba dirigindo-se para a docência, para o exercício do magistério, seja na escola de Educação Básica ou nas instituições de Ensino Superior. Assim, é muito comum encontrarmos profissionais que se dedicam ao ensino de Filosofia (sendo professores de Filosofia), são especialistas, em algum nível, em certas questões filosóficas e ocupam espaço no debate público, constituindo-se em intelectuais engajados em tal debate.”
Prof. Celso: “A Educação Básica constitui um campo de trabalho importante para aqueles que buscam formação filosófica. Mesmo considerando o cenário de crise na educação pública, os poucos investimentos e a precarização do trabalho dos professores, não se pode desconhecer a carência de profissionais formados em filosofia. A escola é um espaço de trabalho. Há outros espaços profissionais, seja em instituições educacionais seja em instituições de outra natureza, onde a presença do trabalho do filósofo, dada sua formação qualificação intelectual, são fundamentais.”
Ensino de Filosofia na Educação Básica
Prof. Celso: “A garantia de um espaço específico para a Filosofia no Ensino Médio, sua inclusão como disciplina obrigatória, constituiu o primeiro passo de um processo que requer amadurecimento e cuja consolidação exige múltiplos investimentos, sejam este de natureza teórico-pedagógica, sejam recursos técnico-administrativos. Um cenário bastante comum indica a precariedade do ensino de filosofia nas escolas. O seu lugar ainda é periférico. Parece cumprir mais uma exigência burocrática do que compor um ideal de formação. A construção de um lugar apropriado, com profissionais formados em Filosofia, é exigência primeira para tornar a filosofia um saber significativo na formação dos jovens.”
Crise ética e moral
Prof. Marcio: “Parece-me que aos profissionais da Filosofia não cabe nenhum papel especial ou privilegiado em nossa época, especialmente no Brasil, em relação a uma possível crise ética e moral que possamos constatar, particularmente na esfera da política profissional. Não cabe aos profissionais da Filosofia ‘tirar soluções da cartola’ para crises éticas e políticas como aquela que é revelada dia após dia na Operação Lava Jato. O que cabe a eles, como aos demais cientistas, políticos, artistas, técnicos, profissionais, trabalhadores e cidadãos em geral, é embrenhar-se no debate público sobre aquelas questões. Isso não nega o fato de que os profissionais da Filosofia possam oferecer contribuições específicas e qualificadas, dada sua formação, no debate público sobre, por exemplo, ética na política, por um lado; mas, de outro lado, isso também não concede nenhum lugar especial ou saber privilegiado aos profissionais da Filosofia sobre tais questões. A Filosofia constitui-se, assim, hoje, em mais um campo de saber, com suas especificidades é verdade, ao lado de tantos outros, mas com a mesma relevância dos outros.”
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