Eventos climáticos extremos têm se tornado mais frequentes e intensos em todo o mundo, mas será que a população associa este fenômeno às mudanças climáticas? A resposta a esta pergunta é o que traz um estudo publicado recentemente pela revista científica Nature Climate Change, que analisou cerca de 72 mil pessoas, em 68 países. Das populações pesquisadas, os brasileiros estão entre os que mais atribuem eventos climáticos extremos às mudanças climáticas, empatando com a Colômbia no topo do ranking regional.
“Essa ligação direta (entre eventos extremos e mudanças climáticas) é fundamental: quanto mais a população faz essa conexão, maior é o apoio a políticas públicas para reduzir emissões”, pontua o professor Kochav Koren, da UFFS – Campus Erechim, que fez parte da equipe que realizou este estudo. Segundo ele, entre os dados de destaque da pesquisa, em especial em relação ao Brasil, está uma atribuição subjetiva recorde. “A média global de concordância de que ‘o clima já piorou os eventos extremos’ é 3,8 numa escala de 1 (‘nada’) a 5 (‘muito’). Brasileiros situam-se claramente acima desse patamar, liderando a América do Sul”, comenta.
O estudo confirma que, no mundo todo, proteger florestas (82% ‘apoio total’) e ampliar energias renováveis (75%) são as medidas mais populares, enquanto novos impostos sobre combustíveis fósseis (29%) ou alimentos com alto carbono (22%) enfrentam maior resistência. “Embora os autores não divulguem o índice numérico individual por país, o Brasil integra o bloco de nações com apoio acima da média ao chamado ‘pacote de transição verde’ (renováveis, transporte público e proteção florestal), políticas muito alinhadas à realidade brasileira da Amazônia e da matriz elétrica limpa”, comenta Koren.
De acordo com o professor, o Brasil aparece entre os países expostos a vários tipos de extremos: calor intenso, chuvas fortes, secas e incêndios florestais. “Entretanto, o estudo mostra que não é a exposição objetiva, mas a percepção de que o evento é causado pelo clima que reforça o apoio a políticas de mitigação; a única exceção global significativa foi a exposição a incêndios”, ressalta.