Setembro amarelo: a importância de falarmos sobre suicídio
Profissionais da saúde falam sobre o tema.

Publicado em: 21 de setembro de 2021 13h09min / Atualizado em: 22 de setembro de 2021 18h09min

O Setembro Amarelo é uma campanha que surgiu em 2014 que busca fomentar espaços de discussão sobre o comportamento suicida em todo o território brasileiro e também conscientizar a população geral sobre a ocorrência de suicídios e nos meios possíveis e mais adequados para a sua prevenção.

Segundo o professor do curso de Medicina da UFFS – Campus Chapecó Felipe Barreto dados apontam que 79% dos suicídios no mundo ocorrem em países de renda baixa e média e nos últimos anos são registrados, anualmente, no Brasil cerca de 13 mil mortes por suicídio. Em Santa Catarina, estado que está na segunda posição entre os com maiores taxas de suicídio do país, dados do Sistema de Informação de Agravos de Notificação do Ministério da Saúde revelam que em 2020, 400 pessoas morreram vítimas de suicídio.

O suicídio, segundo o psicólogo e também estudante do curso de Medicina da UFFS – Campus Chapecó Sílvio Soares, é entendido como uma morte intencional autoinfligida, ou seja, é quando alguém decide tirar a sua própria vida e o seu entendimento é complexo e multifatorial, pois tem implicações biológicas, psicológicas, socioambientais e culturais. “Para compreender o suicídio é necessário o entendimento que esse fenômeno está relacionado com uma série de fatores que se acumulam durante a vida da pessoa e que podem ser potencializados por um fato específico, de forma aguda em algum momento, como a morte de uma pessoa querida, perda de emprego, transtorno mental, entre outros”, explicou.

Para Soares, algumas condições acentuam a propensão ao suicídio como, por exemplo, transtornos mentais, como a depressão e a esquizofrenia, e questões sociodemográficas, como ser do sexo masculino, camada da população em extrema pobreza, desemprego. “Devemos citar, também, fatores psicológicos, como perdas recentes e condições clínicas incapacitantes, como em algumas doenças orgânicas, dor crônica, câncer, etc. Ao considerar os dados epidemiológicos, um fator de risco bem importante para o suicídio é quando já houve uma tentativa prévia”, afirmou.

Prevenção

Para o professor Barreto, o suicídio é uma dura realidade que a cada ano cresce na surdina, pois ainda há quem ache que o suicídio é algo muito distante, que só ocorra em quem é “fraco”, “não tem Deus no coração” ou “não se ajude”. “São formas infelizes de estigmatizar quem sofre com ideações suicidas e só faz prejudicar a busca por ajuda e discussões mais aprofundadas sobre o tema. Tão abundantes quanto sólidas, as estatísticas a respeito do comportamento suicida estão aí para se contrapor a esse negacionismo. Mas, apesar dos pesares, é possível prevenir o suicídio na população mais vulnerável para esse desfecho letal”, enfatizou.

Nesse sentido, Soares lembra que o suicídio é problema de saúde pública e a prevenção deve ser tratada, principalmente, na rede pública de saúde. Mas, por ser um fenômeno muito complexo em seus múltiplos fatores e envolver diversos âmbitos na sociedade, deve envolver um trabalho coletivo e integral. “Em vista disso, são importantes ações para a promoção da saúde, criação de espaços para cultura e lazer, fortalecimento de grupos como associações e ONGs e discutir esse tema nas escolas, com a finalidade de desmistificar falas e quebrar tabus acerca da saúde mental e do suicídio”.

Um dos muitos tabus acerca do suicídio é que de as pessoas que querem tirar a própria vida não avisam. Sobre isso, Soares explica que essa forma de explicar o comportamento suicida é simplista e inadequada, pois muitas vezes essas pessoas que têm ideação suicida dão sinais com antecedência, por meio da fala, comportamentos, postagens em redes sociais, entre outros. “São observados estágios durante o desenvolvimento do ato suicida, que geralmente tem como ponto de partida os pensamentos de morte, seguido por um plano e finalizando com a execução. Vale lembrar que estamos falando de um fenômeno complexo e em algumas situações a tentativa do suicídio pode ocorrer também sem um plano elaborado previamente e sem avisos”, afirmou.

Ajuda

Quando se trata de pessoas com ideações suicidas, uma das dúvidas que surgem é justamente como ajudar. Para Barreto, é preciso salientar que não se ajuda alguém que tenha pensamentos suicidas de qualquer forma e é preciso estar minimamente bem para se conectar, com respeito e empatia, ao sofrimento do outro. “Escutar sem julgar, dar o lugar de fala a quem já não vê razões pra viver, já é um primeiro passo. Se você não se sente habilitado para conversar sobre o assunto com essa pessoa, procure alguém que possa ajudá-la da maneira que ela necessita. Depois, é prudente encaminhar a pessoa a um serviço de saúde, que pode ser desde a unidade básica de saúde do seu bairro até atenção especializada, como os centros de atenção psicossocial”.

O professor também lembra que não se deve fazer uso de medicações sem orientações médicas e que caso a pessoa tente o suicídio ela deve ser encaminhada o mais rápido para o pronto socorro e que após esse atendimento, seja assegurado um encaminhamento a atenção especializada.

Serviços

Soares reforça que existem serviços especializados para atender essas demandas, como os Centros de Atenção Psicossocial, Unidades Básicas de Saúde, Pronto-Socorro, Hospitais, Samu 192, Unidades de Pronto Atendimento – UPAs, além do Centro de Valorização da Vida – CVV, através do telefone: 188, ligação gratuita, 24 horas por dia. Na Universidade Federal da Fronteira Sul contamos com profissionais psicólogos que também podem ser contatados através do Setor de Assuntos Estudantis.

Saúde Mental nas Universidades

Sobre a importância de se discutir esse tema no meio acadêmico, o professor Barreto afirma que não vê razão para que tópicos inerentes a saúde mental, como comportamento suicida, não estejam na pauta de todos os ambientes com aglomerações de adolescentes e adultos, jovens ou não.

O professor relembra também os dados de uma pesquisa feita sobre saúde mental na UFFS – Campus Chapecó, conduzida pelo professor Anderson Funai, que revelam altos índices de sofrimento mental entre nossos estudantes de vários cursos de graduação em que as taxas variaram de 28,2% para o curso de Enfermagem até alarmantes 58,1% no curso de Filosofia, por exemplo. “Por sofrimento mental entende-se sintomas de depressão e transtornos ansiosos, que muitas vezes reforçam comportamentos de uso de substâncias psicoativas entre nossos estudantes. Sabemos que promover saúde mental em qualquer universidade envolve atitudes coletivas e multisetoriais, mas se prezamos de verdade por formar recursos humanos, devolvendo à sociedade indivíduos capazes de engrandecê-la e organizar mudanças em suas arestas, devemos priorizar toda e qualquer ação que resulte em algum ganho de qualidade de vida aos que fazem a nossa UFFS ser quem ela é”, concluiu.