Homenageado, presidente da Capes fala sobre a pós-graduação no Brasil

Publicado em: 10 de outubro de 2014 00h10min / Atualizado em: 10 de outubro de 2014 01h10min

Na manhã desta sexta-feira (10), o presidente da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), Jorge Almeida Guimarães, participou do segundo dia de trabalho do Fórum de Pró-Reitores de Pós-Graduação e Pesquisa da Região Sul – Foprop, realizado pela UFFS.

Na oportunidade, Guimarães recebeu uma homenagem pelos mais de dez anos à frente da instituição. E, durante sua passagem, falou ao jornalismo da UFFS sobre os desafios da pós-graduação brasileira.

UFFS - O senhor está à frente da Capes há mais de 10 anos. Como avalia esse período de gestão?

Guimarães - A Capes tem uma característica bastante especial que é o fato de que muitos dos seus dirigentes, presidentes especialmente, tenham uma vida de gestão mais longa que a média dos cargos brasileiros. Eu sou o terceiro presidente a estar à frente da instituição por mais de 10 anos. E isso não é novidade, pois dos 63 anos desde a fundação da Capes, por 46 anos ela foi dirigida por apenas seis presidentes. Isso é raríssimo, mas vejo como uma sorte para o sistema, pois garante regularidade e continuidade, que é muito importante.

Se formos comparar, nesse mesmo período, por exemplo, vários ministros passaram pelas pastas com as quais dialogamos, mas a direção da Capes não mudou e permaneceu em sua trajetória e isso confere também segurança às propostas e instâncias.

Um fator muito importante é que essa gestão se desenvolve em um período muito rico na seara da educação, isso porque esse tema passou a ser importante para o Brasil, o que por muitas décadas não fez parte da agenda política brasileira.

Nesses últimos anos os investimentos na educação deram saltos extraordinários. A começar pelo próprio prédio da Capes. Nós saímos do segundo andar do anexo do Ministério da Educação para um prédio de 18 andares. O nosso orçamento cresceu 10 vezes. O Brasil demorou muito para despertar para a importância da ciência e tecnologia, da formação de pessoal qualificado e, mais recentemente, para a educação básica. Por isso, foi e está sendo um período de muitas possibilidades e iniciativas.

O resultado disso é o reconhecimento, não trabalhamos por isso, mas é uma consequência. E é importante frisar que não é um reconhecimento só ao presidente da Capes mas a toda a equipe de gestão. Todos contribuíram positivamente para galgarmos alguns avanços.

 

UFFS – Qual a importância da interiorização da Pós-graduação no Brasil?

Guimarães – As iniciativas do governo colocaram a educação em um patamar adequado para um país com as nossas características. O Ministério da Educação foi responsável pela execução de muitas iniciativas, como a criação de várias novas universidades, ampliação dos campi das antigas e criação dos institutos federais. Foram ações extremamente importantes que se somaram a um conjunto grande de inciativas na própria Educação Básica.

A criação de novas universidades, especialmente no interior do Brasil, como é o caso da UFFS, fez com que o número de cursos de pós-graduação crescesse substancialmente e, consequentemente, o número de mestres e doutores. E o principal disso tudo é a interiorização da pós-graduação e pesquisa, que agora podem ser realizadas em regiões que careciam de investimentos deste nível.

Foram avanços importantíssimos que possibilitaram uma nova perspectiva de desenvolvimento local especialmente no campo científico. E isso reforça a formação de recursos humanos no nível mais elevado.

 

UFFS – Quais os desafios para a internacionalização da pós-graduação do Brasil?

Guimarães – Ao passo que continuamos avançando nos nossos ganhos, também aparecem alguns desafios novos, como é a questão da internacionalização das universidades e da pós-graduação. Assim como a inovação, a palavra internacionalização é a ordem do dia no mundo inteiro. E no caso brasileiro, esse processo encontra alguns grandes desafios.

Por exemplo, as chamadas universidades de classe mundial são universidades relativamente pequenas se comparadas às nossas. São também muito antigas, com foco extremamente forte em pesquisa básica e aplicada. Além disso, essas instituições têm forte ênfase no ensino com poucas aulas, estabelecendo um método de aprendizagem que privilegia atividades oferecidas aos alunos para que eles estudem por conta própria. Quanto a este último ponto, precisamos avançar no Brasil e nos desvincular da crença de que os alunos só aprendem com o professor, em sala de aula. Hoje em dia está comprovado que há muita informação disponível e muitos meios de aprendizagem. Outras características importantes das universidades tidas como de classe mundial são, por exemplo, o fato de muitas delas serem privadas, mas estão inseridas em um sistema privado um tanto curioso, com alto apoio do governo. Não advogo que instauremos completamente esse sistema no Brasil, mas acredito que no que tange à autonomia e governança esse sistema é interessante, além da accountability, que é a capacidade de responder pelos seus atos perante a sociedade. Essas são características interessantes para o processo de internacionalização.

Além de tudo isso, são vários outros desafios, como a necessidade de currículo internacional, cursos de línguas regulares – sobretudo inglês, moradia no campus, intercâmbio de professores, contratação de professores, necessidade dos estudantes brasileiros conviverem com estudantes do resto do mundo. O conjunto de componentes é grande, assim como é o desafio para nós.

Por isso, nesse rumo para internacionalizar as universidades, a Capes está desenvolvendo um programa para o MEC, de financiamento aos programas de internacionalização. Esse programa é baseado em dois eixos: Ciência sem Fronteiras e Pós-graduação. Ou seja, através da experiência obtida no envio de alunos para o CsF, as universidades poderão tratar perfis de afinidades com instituições de outros países, afim de formalizar seus acordos internacionais.

São esforços perenes os da Capes e do MEC, mas no campo da educação, os desafios são permanentes.

 

UFFS – Como encara os compromissos da pós-graduação com a Educação Básica?

Guimarães - A partir de 2008, com a percepção de que a Educação Básica era o maior desafio, a Capes foi chamada a atuar nesse setor. Mas, sem dúvida constitui uma grande novidade o comparecimento do tema pela primeira vez no Plano Nacional da Pós-Graduação.

São muitas ações que começamos a desenvolver, frutos de um esforço que envolve praticamente todas as instituições de ensino, em vários níveis, e que visam a melhoria da qualificação dos professores da Educação Básica e um reforço e reconhecimento da importância da carreira desses profissionais.

Temos o entendimento que a qualificação dos educadores é capaz de transformar a realidade de aprendizagem, em todos os seus aspectos, dentro e fora da sala de aula.