Conferência encerra atividades do ano do Mestrado Interdisciplinar em Ciências Humanas
Professor Celso Braida, da UFSC, falou sobre a hermenêutica e a genealogia das expressões culturais

Publicado em: 12 de dezembro de 2017 07h12min / Atualizado em: 13 de dezembro de 2017 12h12min

Descentrar a Europa das reflexões sobre cultura e noções de expressão feitas no Brasil e em toda América Latina: este tem sido um grande desafio para pesquisadores da área das Ciências Humanas. Ao menos é o que diz o professor Fábio Feltrin de Souza, coordenador do Programa de Pós-Graduação Interdisciplinar em Ciências Humanas (PPGICH) da Universidade Federal da Fronteira Sul (UFFS). “Não cabe mais apenas refletir sobre o que é cultura, ou sobre o que é a própria noção de expressão, a partir das perguntas dos marcos referenciais europeus. É preciso descolonizar as maneiras de produzir conhecimento e descolonizar a própria filosofia”, afirma. Na última quinta-feira (7), uma conferência realizada na UFFS – Campus Erechim, ministrada pelo professor Celso Braida (UFSC), abordou justamente a hermenêutica e a genealogia das expressões culturais. O evento serviu também como atividade de encerramento das atividades deste ano do Mestrado Interdisciplinar em Ciências Humanas.

“Temos que pensar as expressões culturais típicas que emergem nesse contexto cultural e social chamado Brasil ou América Latina”, fala o coordenador do curso. “Propomos conceitos e expressões híbridas, mescladas ou em diálogo, para que possamos produzir uma reflexão mais assentada e com mais força de análise daquilo que é particularmente nosso e não necessariamente europeu.” Há que se destacar, segundo Feltrin, que os brasileiros não são apenas filhos de europeus. “Somos filhos de uma tecitura e de uma multiplicidade de expressões. Congregar essa multiplicidade talvez seja uma chave interessante para pensar outras expressões, outras culturas, outros conceitos que ficaram à margem desse pensamento eurocêntrico”, explica.

De acordo com o docente da UFFS, o professor Celso Braida é um dos pesquisadores mais importantes do assunto no Brasil, dialogando a cultura em uma perspectiva transdisciplinar. “O que o professor Celso estuda tem uma aderência muito forte ao que nós pesquisamos em uma das três linhas de pesquisa do Mestrado: Sujeito e Linguagem”, fala o coordenador. Além desta, o curso atua também nas linhas “Saberes, Processos e Práticas Sociais” e “Educação, Culturas e Cidadanias Contemporâneas”.

Professor na UFSC, Celso Braida (à esquerda) abordou a hermenêutica e a genealogia das expressões culturais

Atualmente, a área interdisciplinar é a maior área da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes). “Parece haver uma compreensão de que esses saberes interdisciplinares, que emergem como disciplinas autônomas do século XIX, não dão mais conta, sozinhos, de refletir sobre a realidade”, diz Feltrin.

O mestrado ofertado em Erechim é voltado a todo profissional, seja da área da educação ou não, que queira investigar algo e, para que esta investigação tenha êxito, ela necessite de um aporte interdisciplinar. “Os objetos que o contemporâneo nos fornece, de algum modo, necessitam de um aporte interdisciplinar. Então, focamos, independente da área que você vem, nas investigações que necessitem, indispensavelmente, de um aporte interdisciplinar”, fala o coordenador do curso. O perfil dos egressos é diverso, incluindo gestores de educação, professores, entre outros. Das 19 dissertações da primeira turma, o PPGICH terá 15 defendidas até o fim desse ano.

Diálogo e futuro

A conferência com Braida faz parte das Jornadas Interdisciplinares – atividades iniciadas neste ano pelo PPGICH e que são desenvolvidas pelas linha de pesquisa, de acordo com suas demandas internas. “Cada uma das conferências que nós trouxemos dialogava com uma das questões centrais das linhas de pesquisa”, conta Fábio Feltrin. “A professora Marlene De Faveri, que recentemente esteve aqui, dialogou sobre questões referentes à educação, cultura, gênero. O professor Pavel, um professor boliviano, veio a pedido do professor Cássio, que dialoga com questões de epistemologia e autonomia indígena. E, para a linha Sujeito e Linguagem, em que temos expressões artísticas, a hermenêutica como um método de reflexão dessas expressões e a linguagem como um dos nossos principais temas de investigação, pensamos no professor Braida”.

Fábio Feltrin e Marlene De Fáveri durante palestra promovida pelo PPGICH

A conferência serviu também para marcar algumas metas para o Programa de Pós-Graduação para os próximos três anos. “As pós-graduações se organizam em avaliações quadrienais. Acabamos de passar por uma avaliação, iniciando o quadriênio 2017-2020”, conta Feltrin. “Uma das metas que temos é fazer esse seminário interdisciplinar, que é uma maneira não apenas de mostrar o que estamos realizando, mas de trazer outros pesquisadores, em um grande evento, para colocar a UFFS neste mapa da produção de excelência na área das Ciências Humanas”, fala. “Pretendemos também que as Jornadas Interdisciplinares de cada uma das Linhas de Pesquisas também sejam um espaço de debate interessante, com os próprios mestrandos mostrando os seus trabalhos.”

O coordenador cita ainda “uma meta ousada de publicação dos professores, visto que, em última instância, não se faz pós-graduação sem pesquisa e publicações, meta de captação de recursos em agências de fomentos”. O objetivo final, para 2020, é de aumentar a nota do PPGICH e submeter, à Capes, uma proposta de Doutorado.