Professoras da UFFS - Campus Chapecó conquistam bolsas de Produtividade em Pesquisa
As pesquisadoras Margarete e Samira são dos programas de Pós-Graduação em Ciências Biomédicas e História, respectivamente.

Publicado em: 07 de abril de 2022 12h04min / Atualizado em: 08 de abril de 2022 09h04min

Duas pesquisadoras da UFFS – Campus Chapecó conquistaram bolsas Produtividade em Pesquisa do CNPq recentemente. As professoras Margarete Dulce Bagatini e Samira Peruchi Moretto, dos programas de Pós-Graduação em Ciências Biomédicas e em História, respectivamente, somam-se aos sete bolsistas de Produtividade em Pesquisa da Instituição.

A Bolsa Produtividade em Pesquisa (PQ) é uma das modalidades de bolsa concedidas pelo CNPq. Conforme resolução do próprio conselho, a bolsa PQ é “destinada aos pesquisadores que se destaquem entre seus pares, valorizando sua produção científica segundo critérios normativos”.

A coordenadora acadêmica da UFFS – Campus Chapecó, Gabriela Gonçalves de Oliveira, salienta que ter bolsistas desse nível na Instituição qualifica a pesquisa. “É muito importante para a Universidade termos pesquisadores contemplados com bolsas PQ. Isso representa maior investimento em pesquisa e inovação para o Campus; além de maior produção científica e formação de pessoal. Pesquisadores desse nível investiram muito tempo em pesquisa e aperfeiçoamento. A universidade é movida pela ciência. É imprescindível investirmos em pesquisa. Os bolsistas fomentarão o desenvolvimento tecnológico-científico da UFFS”.

A professora Samira, que também está no cargo de Coordenadora Adjunta de Pesquisa e Pós-Graduação do Campus Chapecó, enfatiza que a aprovação de projetos PQ destacam o reconhecimento dos pesquisadores pelos pares. “Historiadores renomados, pesquisadores com pesquisas sérias e reconhecidas foram avaliadores e houve reconhecimento pelos pares. Vai além da produção e da qualidade do projeto de pesquisa realizado e submetido”, afirma.

Embora sejam de áreas bastante distintas, as duas professoras têm em comum a dedicação à pesquisa há bastante tempo. Ambas começaram suas investigações ainda nas graduações, como bolsistas de Iniciação Científica.

A professora Margarete pesquisa temas correlatos ao sistema purinérgico, compostos naturais, câncer, doenças cardíacas, doenças neuronais, novos alvos terapêuticos e busca por biomarcadores desde o mestrado, em 2006. Porém, ela atua em pesquisas desde o início da graduação, na Iniciação Científica como voluntária e, posteriormente como bolsista.

Na UFFS, em 2011, quando ingressou na Instituição, seguiu orientando estudantes na Iniciação Científica, além de ser professora colaboradora em programas de pós-graduação, para seguir inserida na pesquisa. Orientou mestrandos na UFSM e no PPGCTAL da UFFS. Contribuiu na criação do PPGCB da UFFS – Campus Chapecó. Atua como professora e pesquisadora e é coordenadora ajunta do programa. Além disso, também integra o programa de pós-graduação em Bioquímica da UFSC.

O projeto submetido e que resultou na bolsa Produtividade em Pesquisa é intitulado “Avaliação do efeito de compostos fenólicos sobre o sistema purinérgico e marcadores inflamatórios em linhagens celulares de melanoma cutâneo”. Atuam na pesquisa quatro alunos bolsistas de IC, seis voluntários, dois mestrandos e uma aluna de doutorado, além de três professores colaboradores.

“Estudo melanoma cutâneo (MC) na região desde 2014, quando orientei minha primeira aluna de mestrado. Focamos no MC justamente devido à alta incidência, que pode ocorrer pela localização geográfica. Também temos o fato de estarmos em uma região com a população com a pele branca e, além disso, as atividades agrícolas que favorecem a exposição solar e nem sempre vêm acompanhadas da devida fotoproteção”, explica.

A pesquisa iniciou em humanos, buscando identificar como se comportava o sistema purinérgico, as enzimas, receptores, nucleotídeos, nucleosídeos. Depois, os pesquisadores passaram a estudar mecanismos in vitro. “Então, atualmente estamos desenvolvendo pesquisa no laboratório de cultivo celular, com linhagens de MC e tratando com diferentes compostos, inclusive compostos naturais, que nós mesmos produzimos, provenientes de parceria com professores da Agronomia. A ideia é justamente buscar coadjuvantes terapêuticos, com o objetivo de amenizar efeitos colaterais da medicação e reduzir progressão da doença. Também queremos fazer o diagnóstico do tipo de câncer desenvolvido em pacientes da região e buscar terapias que temos aqui, ou seja, compostos naturais, extratos de plantas e frutos que temos aqui”, destaca ela.

A professora conta que tem um motivo a mais para comemorar a conquista: ela é mãe, e mesmo com a rotina corrida de ter um filho pequeno, conseguiu seguir com estudos, investigações e pesquisas em nível elevado, chegando ao reconhecimento dos pares com a aprovação na bolsa PQ.

A professora Samira é a segunda pesquisadora PQ do Programa de Pós-Graduação em História (PPGH) da UFFS – Campus Chapecó. Ela e o professor Claiton Márcio da Silva, inclusive, são da mesma linha de pesquisa e do mesmo laboratório, o “Fronteiras: Laboratório de Pesquisa Ambiental da UFFS”. O laboratório, inclusive, segundo a pesquisadora, foi construído a partir das pesquisas em comum e das redes de contatos anteriores dos dois e do professor Marlon Brandt. Além dos três professores, participam do laboratório alunos de graduação, mestrandos e doutorandos de outras instituições coorientados pelos professores da UFFS.

Na equipe que atuará na pesquisa estão, ainda, três bolsistas IC, três voluntários, além dos graduandos envolvidos com o Laboratório e de sete mestrandos, entre os da UFFS e da UFSC (a professora foi credenciada recentemente no Programa de Pós-Graduação em História da UFSC), e de dois doutorandos coorientados pela professora Samira. Ela destaca, ainda, os elos institucionalizados com universidades estrangeiras e as parcerias e diálogos com pesquisadores internacionais, como Stephen Bell, dos EUA, e colegas da Universidade de Quilmes, Argentina.

Assim como a professora Margarete, a professora Samira iniciou com o tema da pesquisa já na graduação, quando foi bolsista de Iniciação Científica. Na época, estudou o processo de desmatamento do Planalto Catarinense, fazendo análise histórica da influência antrópica para a devastação da floresta naquela região.
“Minha pergunta de pesquisa desde a graduação e que ritmou a pesquisa no mestrado foi: o que aconteceu com as áreas que antes eram ocupadas pela floresta? Isso me instigou a pesquisar o processo de reconstrução florestal das áreas desmatadas”, relata a professora. No doutorado, ela conta que trabalhou com a conservação de uma espécie nativa do Planalto Meridional, a acca sellowiana. Agora, volta-se novamente a pesquisar o processo de transformação da paisagem em função do desmatamento e da recomposição da floresta que antes existia.

“Para esse projeto usei uma matéria do The Guardian, que me chamou muito a atenção, denominada The Green’s Desert, e estava falando da introdução de espécies exóticas para a monocultura de floresta aqui no Brasil, fazendo um comparativo com o que estava acontecendo na África e em alguns lugares da América Latina. Então, a ideia é estudar como foi esse processo de recomposição florestal no Sul do Brasil, as espécies preferidas e como isso impacta no processo de preservação e conservação da nossa floresta nativa da região, a floresta andrófila mista”.

A professora explica que “Deserto Verde” foi um termo cunhado na década 60 para entender os reflorestamentos de monocultura com árvores exóticas em determinada região. Normalmente, isso não traz subsídio para fauna local e, em geral, também não traz consigo o inimigo natural da espécie. “Então, as árvores exóticas se dispersam com facilidade e a espécie torna-se exótica invasora. Ela impede a recomposição da floresta nativa. Um exemplo é o Pinus elliottii, espécie conhecida na região: quando folhas caem no chão, ficam em forma de rede. Com isso, as sementes da floresta nativa não conseguem penetrar no solo, porque as folhas formam um manto”, expõe a professora.

Portanto, segundo ela, com a pesquisa, busca-se responder, por exemplo: como foi esse processo, quem estava por trás, quem eram os agentes, porque a floresta nativa foi preterida, como políticas governamentais incentivaram o processo, se houve medidas de conservação e preservação e quais foram. O projeto, conforme a professora Samira, será um braço de outro, aprovado no Edital Universal, que tem o envolvimento de mais pesquisadores e trabalha, também, com outras monoculturas.


Leia os resumos do projetos:


“Avaliação do efeito de compostos fenólicos sobre o sistema purinérgico e marcadores inflamatórios em linhagens celulares de melanoma cutâneo”

O Melanoma Cutâneo (MC) é a neoplasia maligna com maior crescimento na última década, tornando-se um problema de saúde pública. No Brasil, as maiores taxas de incidência estão na região sul, devido aos hábitos e as características da população. Vários fatores podem estar envolvidos neste tipo de câncer, incluindo fatores inflamatórios, perda de genes supressores de tumores e recentemente, observou-se uma associação dos níveis de nucleotídeos e nucleosídeos de adenosina e o desenvolvimento do MC. Portanto, o objetivo do presente estudo será avaliar os componentes do sistema purinérgico, marcadores inflamatórios e a ação de compostos fenólicos em linhagens celulares de MC. O cultivo será realizado com as linhagens celulares SK-Mel-28 e A375 tratadas com diferentes doses dos compostos fenólicos: ácido cafeico, ácido rosmarínico e ácido clorogênico. O estudo da fisiopatologia do MC e a ação de novos coadjuvantes terapêuticos são de fundamental importância para o diagnóstico e tratamento dessa doença, buscando diminuir a mortalidade e reduzir os gastos públicos, considerando que a frequência de novos casos está dobrando a cada década e os índices aumentando em pessoas jovens.


“’Desertos verdes’: a expansão do desmatamento e das monoculturas no sul do Brasil (1964-2000)”

O objetivo deste projeto é investigar o processo histórico das transformações socioambientais no sul do Brasil, mais especificamente onde era ocupado pela floresta de Araucária, após 1964 até os anos 2000, em função dos incentivos ao desmatamento e das práticas de introdução de monocultura em grande escala, que catalisaram a descaracterização da paisagem nos espaços onde foram introduzidas. Alavancadas pela Revolução Verde, este processo esteve intrinsicamente conectado com outros em escala global, que objetivaram desde a atender ao mercado externo, até mesmo a importação de pacotes tecno-científicos – que geraram uma série de perdas irreparáveis ao meio ambiente. A floresta teve a sua extensão minimizada e sem possibilidade de auto recuperação ou reparação, em função das atividades da agroindústria e da implementação de espécies exóticas para recomposição florestal. Para atingir os objetivos propostos, as fontes utilizadas são: mapas, relatórios, censos demográficos, os periódicos, imagens de satélites, iconografia, entrevistas e a legislação federal. No ano 2000, com a publicação da Lei 9.985, de 18 de julho de 2000, que institui o Sistema Nacional de Unidades de Conservação (SNUC), vários critérios e normas foram criados, objetivando a adequada criação, implementação e gestão de Unidades de Conservação e iniciou-se uma nova fase de implantação de medidas de conservação, justificando-se assim o final do recorte temporal deste projeto. Visa-se, portanto, entender como ocorreu o processo de transformação da paisagem, e as medidas para conservação ou não dos ecossistemas envolvidos.