Pesquisadores desenvolvem calculadora de risco de mortalidade para pacientes internados com covid-19
Professora da UFFS – Campus Chapecó coordenou a parte local do registro nacional de prontuários de pacientes, com dados do HRO

Publicado em: 19 de março de 2021 14h03min / Atualizado em: 31 de março de 2021 09h03min

Já está disponível a calculadora de risco para a covid-19, resultado de uma pesquisa que envolveu quase 4 mil pacientes que precisaram de internação em hospitais de quatro estados do país. A professora da UFFS – Campus Chapecó Joanna D’Arc Lyra Batista coordenou localmente a pesquisa, que teve o levantamento de dados de pacientes do Hospital Regional do Oeste (HRO).

Mais de 150 profissionais de saúde e estudantes foram envolvidos no estudo multicêntrico de pacientes com doenças causadas pelo SARS-COV-2. A coordenação geral é da professora Milena Marcolino, do Departamento de Clínica Médica da UFMG.

A pesquisa teve como objetivo criar um score prognóstico para predizer as probabilidades de óbito, com base em aspectos de quando o paciente chega no hospital, como a idade e o resultado de alguns exames. Ou seja, com base nessas informações, a calculadora mostra, por meio de uma pontuação, qual a probabilidade de óbito desse paciente.

Os prontuários escolhidos foram de 3.978 pacientes (dos quais, 110 do HRO), que deram entrada em 18 hospitais entre 1º de março e 30 de setembro de 2020. Todos tinham covid-19 confirmada por exames laboratoriais.

A pesquisa aconteceu da seguinte forma: em um primeiro momento foram coletados dados de prontuários de pacientes internados devido à covid-19 nos hospitais. Depois, dados clínicos e laboratoriais já demonstrados na literatura como os relacionados a maior risco de mortalidade foram selecionados para serem testados no score. A partir disso, foram identificados os dados mais relevantes e seu “peso” para o cálculo do score, ou seja, a associação desses dados (como a oxigenação sanguínea, por exemplo) com a mortalidade.

Na última etapa, os pesquisadores testaram a capacidade desse cálculo final (score) descrever o risco de morte em outros dois grupos de pacientes hospitalizados: um de pacientes brasileiros e outro de pacientes espanhóis.

Resultados

A mediana da idade dos pacientes (a idade que mais apareceu) foi 60 anos, a maioria (53,8%) era homem. No geral, a mortalidade foi de 20,3%. Porém, quando o recorte é feito sobre os pacientes que foram internados em UTI, o percentual sobe para 47,6%.

O percentual de morte entre os pacientes do estudo que precisaram de respirador foi de 60%, bem maior do que os 45% de média mundial.

A pesquisa ainda aponta que 15% dos pacientes tiveram infecção generalizada; 13% desenvolveram infecção bacteriana e 87,9% receberam antibiótico. A preocupação da coordenação geral, segundo a professora Joanna, é com esse último percentual, já que antibióticos foram administrados em muitas pessoas mesmo sem infecção por fungo ou bactéria.

Além da professora Joanna, participaram do levantamento dos dados, em Chapecó, um médico, uma enfermeira e cinco residentes.

Calculadora

De 20 dados dos pacientes, o grupo incluiu os sete mais significativos para o score de risco de mortalidade: idade, nitrogênio ureico no sangue, número de comorbidades, proteína C reativa, relação SpO2/FIO2, contagem de plaquetas e frequência cardíaca.

Com base nas probabilidades previstas, os pesquisadores estabeleceram os seguintes grupos de risco:

- baixo risco (pontuação 0-1, observada na mortalidade hospitalar 2,0%);

- risco intermediário (pontuação 2-4, mortalidade hospitalar 11,4%);

- alto risco (pontuação 5-8, mortalidade hospitalar 32,0%) e

- risco muito alto (pontuação maior que 9, mortalidade hospitalar 69,4%).

Segundo a professora Joanna, scores são bastante utilizados em várias doenças, especialmente as de difícil diagnóstico (como tuberculose infantil, por exemplo) e para doenças relacionadas à saúde mental.

Ainda de acordo com a professora, a calculadora é de livre acesso e pode ser utilizada facilmente pelas equipes de saúde à beira do leito, possibilitando a identificação precoce do risco de mortalidade. Com isso, a calculadora pode ajudar os médicos nas tomadas de decisão durante o tratamento, visando, sempre, a redução da mortalidade.

Contudo, diante das novas variantes, das mudanças rápidas da covid devido à sua natureza, além das novas formas de gerenciamento da doença, o desempenho da calculadora deve ser monitorado ao longo do tempo. Há, também, a necessidade de investigações se a utilização do score no pronto-socorro desencadeia, de fato, ações que reduzem complicações e mortalidade hospitalar.

O artigo está em pré print, porém, devido à importância do assunto no atual cenário da pandemia, já está disponível para consulta.