Cerro Largo: peixe ameaçado de extinção no Rio Grande do Sul é encontrado no Médio Uruguai
O piracanjuba está em risco extremamente alto de extinção e já não é encontrado no Alto e Baixo Uruguai

Publicado em: 10 de novembro de 2017 16h11min / Atualizado em: 13 de novembro de 2017 08h11min

Foto: LAPAD/UFSC 

Em uma das pesquisas de campo realizadas no Rio Piratinim, no município de São Nicolau (RS), o professor da Universidade Federal da Fronteira Sul (UFFS) – Campus Cerro Largo, David Reynalte-Tataje, e seus alunos de mestrado e graduação, encontraram ovos de uma espécie de peixe em extinção no estado: o piracanjuba ou bracanjuva ou ainda Brycon orbignyanus. Segundo o Livro Vermelho: Listas das Espécies da Fauna Ameaçadas de Extinção no Rio Grande do Sul, o piracanjuba é uma das quatro espécies que estão classificadas entre os 'criticamente em perigo', que significa que está sujeito a risco extremamente alto de extinção em um futuro imediato, “situação essa decorrente de profundas alterações ambientais ou acentuado declínio populacional ou, ainda, de intensa diminuição da área de distribuição geográfica do táxon”, diz o documento. O livro aponta que, no estado, em todas as categorias de ameaça, constam 28 espécies de peixe em extinção.


O professor David explica que essa espécie se reproduz em ambiente de correnteza, onde tem mais oxigênio, e os ovos conseguem estar sempre em movimento. “Se tiver em água parada o ovo cai no fundo e sua membrana estoura”, explica. Nas regiões do Alto Uruguai (divisa entre o Rio Grande do Sul e Santa Catarina) e do Baixo Uruguai a quantidade de barragens dificulta a reprodução desse peixe e ele acaba por ser extinto. “A extensão do rio nesses locais é pequena e foi prejudicada pela presença de barragens. Em 15 anos trabalhando nessa área, nunca encontrei um piracanjuba, nem adulto, muito menos larva ou ovo”, argumenta o pesquisador. A região do Médio Uruguai possui cerca de 800 quilômetros de extensão o que propicia um ambiente adequado para a reprodução dessa espécie. Os ovos foram capturados bem no início do desenvolvimento, ou seja, tinham, no máximo, uma hora desde o momento da desova e, segundo David, a reprodução estava acontecendo há cerca de 15 ou 20 quilômetros do ponto em que estavam.


No rio Paraguai e no rio Paraná a presença desta espécie está restrita e desapareceu nos locais onde tem barragens. Para ele, a região do Médio Uruguai está em melhor situação com relação à presença da Piracanjuba. “Só neste trecho, onde ainda não existem barragens no canal principal do rio Uruguai, é que esses peixes encontram espaço ideal para se reproduzirem. Se houver construção de barragens, a espécie entrará em colapso. Não tem meio termo”, adverte o pesquisador.

O Livro Vermelho explica que, apesar da extinção das espécies ser um processo natural, o ser humano acaba acelerando esse processo ou mesmo reduzindo em extensão e em qualidade os hábitats da maior parte dos demais seres vivos.