Aluna da UFFS conquista primeiro lugar em concurso nacional de paisagismo
Projeto orientado pela professora Daiane Valentini resultou no Prêmio Rosa Kliass para a egressa Sheila Patrícia de Andrade

Publicado em: 24 de novembro de 2017 08h11min / Atualizado em: 24 de novembro de 2017 13h11min

O trabalho final de graduação da acadêmica Sheila Patrícia de Andrade, do curso de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal da Fronteira Sul (UFFS) – Campus Erechim, recebeu, nesta semana, o I Prêmio Rosa Kliass – Concurso Nacional Universitário de Paisagismo, organizado pela Associação Brasileira de Arquitetos Paisagistas (ABAP). Além de conquistar o 1º lugar na categoria Região Sul, o projeto também angariou a principal posição: o 1º lugar na categoria Nacional. No total, 57 projetos de todo o Brasil foram inscritos.

Com orientação da professora Daiane Regina Valentini, o trabalho foi construído ao longo dos dois últimos semestres da graduação de Sheila, que hoje já está formada e atua na área. Tanto a docente quanto a egressa da UFFS são naturais de Xaxim-SC, o que motivou que o projeto fosse pensado justamente para tal município.

“A intenção de trabalhar em uma proposta para Xaxim partiu da minha vontade de pensar a resolução de problemas urbanos cotidianos da população, mais precisamente os alagamentos e a escassez de espaços verdes públicos, a partir do projeto da paisagem com o objetivo de ressignificar o espaço do Rio Xaxim e melhorar a qualidade de vida”, explica Sheila.

Sheila e Daiane: neste ano, aluna e professora também se destacaram no concurso do Banco Interamericano de Desenvolvimento (Foto: Arquivo pessoal)

De acordo com a professora Daiane, a ideia foi desenvolver um trabalho pautado em um planejamento urbano não usual. “No planejamento das cidades, geralmente o centro das atenções são os índices construtivos, as limitações das áreas construídas. Na proposta do sistema de espaços livres inverte-se o olhar, queremos desenvolver o não-lugar: a partir da identificação e qualificação dos espaços livres (não construídos) identificando quais são essenciais, estruturais e qualificadores para a construção de cidades mais humanas e sustentáveis”, destaca.

O desafio de elaborar a base cartográfica do município em ambiente de Sistema de Informações Geográficas (SIG), possibilitou a sistematização de levantamentos de campo, compreensão sistêmica do espaço e espacialização dos principais conflitos urbanos. “A abordagem metodológica do projeto de paisagismo foi desenvolvida através de propostas de caráter multiescalar, com o planejamento da paisagem articulado ao sistema de espaços livres e ao desenho urbano”, fala a docente da UFFS.

Imagem do projeto desenvolvido pela aluna da UFFS (Créditos: Divulgação)

“Sheila teve a sensibilidade de perceber que as memórias das pessoas em relação ao rio estão se perdendo. As memórias de nossos pais são maiores que as nossas; as memórias do rio são mais presentes em mim do que nela; nela essas lembranças ainda existem, mas que das pessoas mais novas muitas nem sequer sabem que o Rio Xaxim está sob seus pés. Vem daí o título do trabalho, ‘A Urbanidade Oculta’”, diz Daiane. “Ela construiu as propostas pautadas na ressignificação, de resgate das memórias urbanas associadas ao Rio Xaxim. Sem dúvida esse trabalho mostra de maneira enfática como o projeto de arquitetura paisagística pode contribuir para a resolução de problemas de infraestrutura urbana, sobretudo a drenagem, a recuperação de áreas degradadas através da recomposição paisagística, aliadas à criação de espaços comunitários, reinserindo na dinâmica urbana a memória cultural da utilização do entorno do Rio Xaxim. A riqueza das propostas valorizam as características regionais da agricultura familiar e a produção de alimentos nas hortas e comercialização em feiras comunitárias.”

Sheila enfatiza que houve uma identificação muito particular com o tema. “O projeto trata de situações que permeiam a nossa vida muito antes de escolhermos esta profissão [de arquiteto e urbanista], e ser capaz de dar respostas a essas situações é algo muito especial. Ao mesmo tempo, é muito desafiador propor mudanças em um espaço que me é tão familiar e que tenho uma ligação emocional forte. Com certeza foi uma experiência muito enriquecedora.”

A comissão julgadora do Prêmio Rosa Kliass é formada por professores, arquitetos paisagistas e especialistas da área (três profissionais e um representante de cada região), que realizam uma avaliação por regiões, destacando um primeiro prêmio para cada uma delas. Em uma segunda etapa, a comissão julgadora elegeu, entre estes cinco trabalhos, o 1º, 2º e 3º lugares nacionais.

Universidade e reconhecimento

Não é a primeira vez que professora e aluna conquistam posições de destaque em um concurso nacional. Também neste ano, ambas foram semifinalistas do BID UrbanLab, competição promovida pelo Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) destinada a buscar soluções criativas e ideias inovadoras para os problemas urbanos da América Latina e do Caribe.

Já o projeto premiado no Prêmio Rosa Kliass foi desenvolvido no âmbito da UFFS como Trabalho Final de Graduação (TFG), e a produção do material para o concurso foi realizado com o acompanhamento sistêmico de docentes.

A professora Daiane afirma que, para o curso, a classificação representa que o curso da UFFS está transformando, crescendo e contribuindo para uma sociedade e uma região melhor. “Quando a gente vê que um trabalho de uma universidade do interior, de implantação recente, ganha destaque nacional em meio a tantas universidades e cursos de Arquitetura e Urbanismo consolidados, podemos avaliar que estamos construindo uma formação crítica, ética e qualificada das pessoas. Acompanhar esse crescimento das pessoas é fantástico”, fala Daiane.

Sheila também comemora. “Me sinto muito realizada por ter o trabalho reconhecido, é uma alegria muito grande ver que algo que a gente dedica tanto tempo, carinho e cuidado tenha esse alcance. Com certeza um ótimo começo”, diz. “A UFFS forma arquitetos e urbanistas que têm um perfil voltado a pensar a cidade de uma forma democrática e acessível. Somos instigados a pensar espaços mais humanos e, com certeza, levo muito desses ensinamentos do curso comigo. Tenho muito orgulho de ter me formado aqui e sou eternamente grata a todos os mestres que foram apontando o caminho a seguir.”

Daiane completa afirmando que o sentimento é de alegria e gratidão. “Sem dúvida, o corpo docente, técnicos e discentes da UFFS trabalharam muito para construir um curso de qualidade, com a formação integral e crítica, com desenvolvimento de habilidades múltiplas e que tem um sério comprometimento com o desenvolvimento da nossa região”, registra a professora. “Agradeço também à professora Angela Favaretto que colaborou de diversas formas, e à egressa e também arquiteta e urbanista Nubia Raquel Lyneburger, que junto conosco aceitou o desafio de representar a UFFS nesse concurso com seu TFG de excelência”, finaliza.