Professora da UFRR colaborará por 2 anos na UFFS – Campus Chapecó
A professora atuará no PPGEL, em particular no doutorado, recém-aprovado pela Capes

Publicado em: 03 de setembro de 2020 18h09min / Atualizado em: 08 de setembro de 2020 09h09min

Um acordo de colaboração técnica entre o Programa de Pós-Graduação em Estudos Linguísticos (PPGEL) da UFFS – Campus Chapecó e a UFRR possibilita a atuação da professora Simone Guesser durante dois anos na UFFS. Servidora da UFRR, a professora atuará em atividades de pesquisa, ensino, orientação e coorientação no Programa.

Outra atuação da professora Simone no PPGEL será no suporte à implementação do doutorado do Programa, recém-aprovado. O acordo de colaboração técnica entre as duas instituições foi assinado no mês de julho.

A professora Simone é graduada em Letras – Português pela UFSC, sob a orientação do professor Carlos Mioto. Ela foi contemplada com uma bolsa da União Europeia (Programa AlBan), cujo objetivo era possibilitar que alunos latino-americanos estudassem naquele continente.

Com a bolsa, ela realizou o mestrado em Linguística na Universidade de Siena (Itália), sob orientação da professora Adriana Belletti. Em 2007, ao final do mestrado, incentivada pela orientadora, ela participou da seleção do doutorado da Escola de Doutorado em Informática, Lógica Matemática e Ciências Cognitivas da Universidade de Siena. Portanto, em 2008, ela iniciou o doutorado, concluído em 2011. Nesse período, ela fez um sanduíche no ano de 2009, na Universidade de Genebra (Suíça).

Já em 2012, na Universidade Federal de Roraima, ela fez o pós-doutorado dentro de um projeto voltado à documentação, descrição e revitalização de línguas indígenas faladas em Roraima. No ano seguinte, ela ingressou como professora efetiva naquela Instituição, no curso de Letras.  “Considero que lá tenho tido oportunidades importantes para a minha formação acadêmica. Entre elas está a tutoria do Programa de Educação Tutorial em Letras (de 2014 a 2020) e a criação, no Programa de Mestrado em Letras, do Laboratório de Estudos sobre Gramática e Aquisição da Linguagem (LEGAL)” declarou a professora.

Desde a graduação, a linha de pesquisa na qual a professora estuda é a sintaxe do português brasileiro, com especial atenção a fenômenos de periferia esquerda da sentença e de periferia de vP. “Na graduação, investiguei as estruturas interrogativas-wh do português brasileiro, comparando-as com as do português europeu; no mestrado, trabalhei com a focalização do sujeito, questão que requeria também investigar o estatuto do português brasileiro quanto ao parâmetro do sujeito nulo; no doutorado, pesquisei sobre aspectos sintáticos e pragmáticos das sentenças clivadas. Atualmente, tenho me ocupado com a sintaxe de sentenças interrogativas que envolvem sintagmas-wh correspondentes a advérbios altos, como “por que” e “como assim”, procurando aliar a pesquisa teórica à experimental. Além disso, tenho também interesse em aquisição da linguagem e, mais recentemente, tenho me interessado na relação entre teoria gramatical e ensino”.

A professora também atua em associações de linguistas. De agosto de 2018 até o momento, ela coordena o Grupo de Trabalho em Teoria da Gramática da Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Letras e Linguística (Anpoll). A partir desse ano, com a professora Janayna Carvalho (UFMG), ela também passou a coordenar a área de Sintaxe da Associação Brasileira de Linguística (Abralin).

Atuação no PPGEL da UFFS – Campus Chapecó

No PPGEL, a professora Simone contribuirá com o Projeto Pedagógico do doutorado, aprovado em 2020 pela Capes. A atuação dela será especialmente com a Linha 3 do programa, “Língua e Cognição: representação e processamento da linguagem”.

“A ideia inicial é realizar atividades de ensino e de pesquisa, bem como trabalhar em ações que envolvam o PPGEL e o Programa de Pós-graduação em Letras da UFRR. Para que isso se concretize, são previstas atividades como: aulas do PPGEL, realização de palestras ou minicursos, pesquisas e publicações em parceria com professores desse Programa e, por fim, a organização de um evento científico. Essa é a ideia inicial, mas estamos abertos a outras atividades que venham a somar”, ressalta ela.

A professora destaca que, na colaboração, o Programa de Pós-Graduação em Letras da UFRR também deve se beneficiar. “O PPGL/UFRR conta com duas Linhas de Pesquisa: Linha 1 - Língua e Cultura Regional e Linha 2 - Literatura, Artes e Cultura Regional. A linha 2, atualmente, conta com um PROCAD (Programa de Cooperação Acadêmica), que tem mostrado relevantes resultados para os docentes e discentes do Programa. A linha 1, por outro lado, não apresentava nenhum tipo de cooperação com programas de pós-graduação. Nesse sentido, o presente projeto tem vistas a sanar essa lacuna, estabelecendo parcerias entre linguistas do PPGL/UFRR e do PPGEL/UFFS e contribuindo, assim, para a formação de alunos de ambos os programas”.

A professora ainda falou sobre a área dos Estudos Linguísticos no Brasil, sobre a expectativa do trabalho na UFFS – Campus Chapecó e sobre sua relação com Chapecó. Confira:

Como você vê a área dos Estudos Linguísticos no país e qual a importância da pesquisa no interior, longe dos grandes centros e capitais?

A área dos Estudos Linguísticos no Brasil evoluiu muito, e hoje temos mestres, doutores e professores fazendo um trabalho de alto nível. Para que chegássemos a esse patamar, foram muito importantes projetos como os que envolvem bolsas de estudos, que permitiram aos estudantes que se dedicassem com certa tranquilidade à sua formação e, muitas vezes, pudessem entrar em contato com centros consolidados/internacionais de pesquisa. Esses projetos de formação são, portanto, muito relevantes para os caminhos dos Estudos Linguísticos no Brasil. Além disso, uma evolução que vejo nessa área se refere a um movimento em direção à Educação Básica, o que, me parece, até pouco tempo não era muito percebida: hoje, cada vez mais, os linguistas têm se preocupado em transpor para a sala de aula os achados das pesquisas em Linguística.

Dentro desse cenário, as cidades de interior, longe dos grandes centros, são importantíssimas. Elas apresentam fenômenos linguísticos muito interessantes, que podem colocar luz no estudo das propriedades gramaticais das línguas em geral. Além disso, algumas vezes essas cidades periféricas são plurilíngues, como é o caso de cidades que têm comunidades indígenas, de imigração etc. Tudo isso forma um “caldeirão linguístico” muito rico, não apenas para os estudiosos da teoria gramatical, mas também para os estudos de interface, tais como os que se interessam em compreender as relações entre língua e sociedade. Assim, é muito importante que os centros de estudos linguísticos do interior deem valor às sua(s) variedade(s) linguística(s).

Qual sua expectativa dessa experiência na UFFS – Campus Chapecó?

As expectativas são muito boas. A UFFS é uma universidade que, embora jovem, tem se mostrado importantíssima na formação de alunos de graduação e pós-graduação, levando ao público do Oeste catarinense educação gratuita e de excelente qualidade. Além disso, é uma Instituição que, assim como a UFRR, é marcada por processos oriundos das fronteiras, fato que traz interessantes perspectivas de estudo, inclusive no âmbito da Linguística. Olhando, mais especificamente, para o PPGEL, vejo-o como um programa muito sério, com excelentes professores pesquisadores. Imagino, portanto, que, ao final desses dois anos de colaboração, terei aprendido muita coisa.

Já conhecia Chapecó? O que tem achado da cidade, das pessoas (apesar de estarmos convivendo pouco em sociedade!), do clima, etc.?

Vim a Chapecó pela primeira vez em 2013, para participar de um evento na UFFS, o “II Seminário Internacional de Língua e Literatura na Fronteira Sul” e, depois disso, passei rapidamente pela cidade em janeiro deste ano. Na sequência, já vim com o marido e meus dois cachorros para ficar por dois anos! Estou gostando muito; achei os moradores de Chapecó muito receptivos. Quanto ao clima, digamos que estou passando por um processo de readaptação, pois, após 8 anos morando em Boa Vista, não estava mais acostumada com o frio! Espero que, assim que a pandemia passar, eu possa aproveitar ao máximo a cidade.