Professor da UFFS – Campus Chapecó fará defesa da escola do campo em audiência pública na ALESC
Representando a ACECAMPO, o professor Willian Simões levará informações como os impactos do fechamento dos estabelecimentos de ensino na zona rural

Publicado em: 16 de abril de 2018 13h04min / Atualizado em: 18 de abril de 2018 13h04min

O professor da UFFS – Campus Chapecó, Willian Simões, fará uma fala no dia 19, em Audiência Pública na Assembleia Legislativa de Santa Catarina (ALESC) pela defesa da escola do campo no estado. O professor é membro da Articulação Catarinense por uma Educação do Campo (ACECAMPO) e pesquisador da área. A principal questão, segundo ele, é a defesa da Escola do Campo.

Simões levará informações, dados e reflexões a partir de pesquisas para justificar o que o coletivo considera essencial: a defesa pela permanência desses estabelecimentos na zona rural em Santa Catarina. “Vamos problematizar as disfunções entre as escolas localizadas nas zonas rurais e as localizadas nas zonas urbanas dos municípios, não para reforçar dicotomias, mas para dizer que queremos boas condições de trabalho no campo e que vamos brigar para segurar as escolas na zona rural – ainda que sejam poucas. Entendemos que essa escola é mais do que um estabelecimento de ensino que oferta a escolarização – ela é parte integrante e de sustentação daquela comunidade”, ressalta.

Conforme o professor, há impactos de várias ordens com o fechamento de escolas do campo, especialmente o incentivo ao êxodo rural dos jovens. Ele frisa que com isso, o processo de escolarização é deslocado da cultura, da identidade, do território de vida dos sujeitos do campo. Assim, reforça o professor, há uma desconsideração de especificidades de determinados modos de vida. “Somos contra o fechamento das escolas do campo, sobretudo o fechamento sem um diálogo permanente com a comunidade, o que muitas vezes acontece e vai contra o que prevê a legislação”.

Outro ponto de discussão será a regulamentação das diretrizes operacionais da Educação do Campo para o estado de Santa Catarina. De acordo com ele, há um documento base já protocolado junto ao Conselho Estadual de Educação, para criar diretrizes orientadoras das Políticas Educacionais voltadas às escolas do campo – estruturais ou pedagógicas. Entretanto, o conselho não avançou na tramitação do documento.

Questões históricas também serão debatidas, como o alto índice de fechamento, condições de transporte escolar e os Projetos Políticos Pedagógicos das escolas que recebem esses sujeitos que vêm do campo (se de fato levam em consideração no processo de ensino-aprendizagem e no atendimento escolar, em geral, especificidades que são próprias do modo de vida dos agricultores, das comunidades tradicionais, das territorialidades, do modo de vida do campo.

“Nas minhas pesquisas e nos trabalhos que tenho feito com a juventude aqui, um dos motivos do êxodo dos jovens é a escola. A escola que temos hoje ainda desconsidera o campo como espaço de vida. Não dá para generalizar, mas há escolas que precisam olhar para a cultura, a identidade, para as condições de vida dessas comunidades para ofertar uma boa escolarização, para que esse jovem comece a enxergar seu município e a sua vida como uma possibilidade”, destaca Simões. Um dos primeiros impactos do fechamento das escolas do campo, de acordo com o professor, é levar o jovem embora da zona rural, e, com isso, contribuir para a negação da cultura e identidade do campo. “Essa é uma questão que não aparece, é muito simbólica: o sujeito passa a negar quem ele é. Tem um texto da professora Roseli Caldart que começa problematizando o fato de uma criança acampada dizer à pesquisadora que a primeira vez que ela sentiu vergonha de ser quem ela é foi quando foi à escola”, finaliza o professor, reforçando a importância e a necessidade dessa discussão.

Números

  • Desde 1995, mais de 5,5 mil escolas catarinenses foram fechadas no campo.
  • Em mais de 55 municípios já não há nenhuma escola rural.
  • De todos os estabelecimentos de ensino públicos, somente 24% estão na zona rural em SC (dados de 2016).
  • Somente 8,34% das matrículas foram realizadas nas escolas do campo (2016).
  • Em 2010, eram 967 escolas municipais fazendo atendimento na zona rural. Em função do fechamento de escolas do campo ou ampliação do perímetro urbano dos municípios, esse número caiu para 698 em 2016, o que representa uma redução de pelo menos 27,8%.
  • Entre as escolas estaduais, também há uma tendência de redução: de 199 em 2010, o número de escolas do campo chegou a 179 em 2016.
  • Em Santa Catarina, em 2016, eram apenas 76 estabelecimentos atendendo o Ensino Médio na zona rural.
  • 60% das escolas do campo não tem água da rede pública.
  • Somente 37% das escolas do campo têm biblioteca.
  • Laboratórios de informática estão presentes somente em 44% das escolas do campo.
  • Somente 2% das escolas do campo possuem laboratório de Ciências.
  • 10% dos professores da Educação Básica estão atuando apenas na zona rural (aproximadamente 8 mi).
  • Em Santa Catarina, em 2010, 32% dos professores transitavam entre as zonas rural e urbana, o que indica a necessidade de formação de docentes.