Publicado em: 25 de novembro de 2024 15h11min / Atualizado em: 27 de novembro de 2024 14h11min
Ela é professora da UFFS – Campus Chapecó desde 2010. Recentemente, foi colega de uma de suas orientandas da graduação; foi aluna de suas colegas; foi aluna, inclusive, de sua irmã gêmea. Em suas investigações científicas, pesquisas com egressas do curso de Letras: Português e Espanhol da UFFS – Campus Chapecó, hoje, professoras.
É nesse emaranhado de novelos poéticos, proporcionado pelo cruzamento de tantas linhas de vidas de tantas pessoas, que Mary Stela Surdi defenderá sua tese de doutorado em Estudos Linguísticos. A beleza da história se completa agora: trata-se da primeira banca de um doutorado da Instituição.
Até mesmo a banca traz mais do que referências para Stela: são pesquisadoras de referência para o próprio Programa de Pós-Graduação em Estudos Linguísticos (PPGEL) da UFFS. Uma delas, inclusive, é a (considerada) “madrinha” do programa, a professora da UFSM Amanda Scherer.
Conforme a orientadora de Mary Stela e uma das coordenadoras do PPGEL nestes 12 anos, Ângela Stübe, a professora Amanda é uma das precursoras da Análise de Discurso no Sul do país, e do Laboratório Corpus na UFSM, exemplo de funcionamento dos laboratórios do PPGEL da UFFS. Ela foi consultora do projeto do mestrado quando a proposta foi elaborada. Também apoiou quando, na primeira quadrienal, o programa teve nota 3 e o grupo entrou com recurso e a nota subiu para 4. Por fim, a professora Amanda também foi consultora do grupo de professores da UFFS na construção da proposta do doutorado.
Marco para o PPGEL, para o Campus Chapecó, para a UFFS, para a região
O atual coordenador do PPGEL, Valdir Prigol, considera o momento muito significativo. Ele aponta que o programa conta com 24 professores, 80 alunos ativos (sendo 40 no mestrado e 40 no doutorado), sendo que boa parte é bolsista, além de três pós-doutorandos. “Acho espetacular: em 12 anos, 160 mestres, dois laboratórios muito importantes. Fico fixado nesse número de 160 mestres, porque acho que mostra a maturidade do programa, e mostra o quanto a universidade amadureceu em 12 anos”, ressalta.
O coordenador adjunto de Pesquisa e Pós-Graduação do Campus Chapecó, João Paulo Bender, a realização da primeira defesa de doutorado na UFFS "representa um marco importante para a recente história da instituição, que, com apenas 15 anos de existência, tem se consolidado como um polo de excelência acadêmica e científica. Esse evento simboliza a consolidação da pós-graduação na UFFS, especialmente no Campus Chapecó, onde a formação de doutores é vista como um setor estratégico para a ampliação da capacidade de pesquisa e inovação. A pós-graduação na UFFS desempenha um papel fundamental no avanço da ciência, ao formar profissionais altamente qualificados e gerar conhecimentos que contribuem diretamente para o desenvolvimento social e econômico da região sul do Brasil. Por meio de suas pesquisas, a universidade tem impactado positivamente a sociedade, respondendo às demandas locais e ampliando suas contribuições para o cenário científico nacional e internacional".
A Diretora da UFFS - Campus Chapecó, Adriana Remião Luzardo, ressalta que é com muita satisfação que a UFFS - Campus Chapecó terá a primeira defesa de Doutorado da instituição e do Campus por meio do PPGEL. “É um marco que entra para a história da instituição, pois comprova o investimento na pós-graduação e os resultados oriundos da produção do conhecimento do PPGEL, apesar das limitações de recursos humanos e orçamentários vividos pelas universidades e suas unidades operacionais”.
Ela parabeniza a todos e todas que têm feito o programa acontecer, e nomina o coordenador do programa, Valdir Prigol, a doutoranda, Mary Stela Surdi, e sua orientadora, Ângela Stübe, os servidores técnicos do Campus, o técnico que secretaria o PPGEL atualmente, Cesar Capitaneo, o coordenador adjunto de Pesquisa e Pós-Graduação do Campus Chapecó, João Bender, e nosso Pró- Reitor de Pesquisa e Pós-Graduação (PROPEG), Joviles Trevisol. “A Direção do Campus tem buscado, ao longo de 2024, dar atenção aos programas de Pós-Graduação do Campus por entender a relevância do trabalho, seus desafios e oportunidades em prol do avanço da ciência em uma universidade pública, gratuita e de qualidade. Desejamos vida longa ao PPGEL e aguardamos com alegria as próximas defesas que virão!”, finaliza a diretora.
O Pró-Reitor de Pesquisa e Pós-Graduação, Joviles Trevisol, lembra que a defesa da primeira tese ocorre no ano em que a UFFS celebra seu 15º aniversário. Aponta que outro destaque é que o primeiro título de doutorado será concedido a uma doutoranda vinculada ao primeiro programa de pós-graduação da UFFS recomendado pela CAPES. Para ele, isso demonstra a tenacidade e a dedicação de todos os docentes, servidores e estudantes que integram o Programa de Pós-Graduação em Estudos Linguísticos. “A pós-graduação vem se consolidando a cada dia. Até o momento, a instituição já emitiu 3.055 diplomas e certificados de cursos de pós-graduação lato e stricto sensu, sendo 1.256 diplomas de mestrado. O doutorado é o último e o mais elevado grau acadêmico concedido pelas instituições de educação superior. Com a oferta dos cursos de doutorado a UFFS está realizando a sua missão institucional de forma plena", destaca o Pró-Reitor.
Histórico
Para o professor Valdir, a primeira defesa também faz o grupo do PPGEL relembrar toda a trajetória do programa. “É uma alegria muito grande termos a primeira doutora formada aqui na universidade, sabendo que, nas décadas anteriores, todos nós tivemos que ir para outras universidades, passar quatro anos fora para poder fazer o doutorado. Então, mostra que já podemos acolher todos aqui para fazer mestrado, doutorado, sem precisar mudar de cidade. A Stela mesmo: ela fez o doutorado aqui, no momento que quis, mas, sem precisar se deslocar para fazer o doutorado. É um momento espetacular para o programa, para a universidade, mas acho que especialmente para a grande região que a universidade abrange. Se pensamos em 12 anos atrás, a gente não imaginava ter um doutorado aqui. Talvez a gente não tenha dimensão agora, mas daqui a pouquinho isso vai aparecer com muita força”.
Stela também reforça que o doutorado é uma oportunidade que aguardou. Quando ingressou na universidade, era mestre, diferente de outros colegas que optaram ou que puderam sair da universidade, cursar em outro espaço. Ela frisa que optou por esperar e, com isso, ficou na “contagem regressiva” pelo doutorado.
A professora Ângela relembra que a proposta do doutorado enviada à Capes tinha como objetivo do curso, “formar pesquisadores de alto nível para desenvolver pesquisa avançada e inovação na área de estudos linguísticos, com foco no desenvolvimento de pesquisa e de políticas linguísticas para educação básica”. “Entendo que esse olhar de pesquisa e política linguística para a Educação Básica no doutorado é um diferencial do nosso programa. Lembro que eu, quando conversei com o coordenador de área, ainda antes da gente submeter (o projeto), ele disse ‘vocês têm um diferencial nessa proposta’. O diferencial é onde está a nossa inovação de olhar para a Educação Básica, e isso está centrado no PDI da universidade, que é esse diálogo e essa preocupação com a formação de professores”.
E retomando a história do programa, Ângela lembra que os professores da área de Língua Portuguesa e Linguística se engajaram ativamente, inclusive com coordenação do Grupo de Trabalho de Formação de Professores, além de solicitar à Pró-Reitoria, um GT específico de Língua e Comunicação na primeira Coepe. “Da Coepe surgiu a demanda de um programa de pós-graduação em Estudos Linguísticos. O PPGEL é resultado, também, daquela demanda social. Então, o doutorado, hoje, com esse foco, olhando para a Educação Básica, é, também, uma resposta a essa demanda que surgiu há 15 anos. Há 15 anos dialogamos com a comunidade regional, tomando a comunidade regional também como objeto de estudo para dar retorno em pesquisas e, nesse sentido, a pesquisa da Stela é um marco fundamental”, conta a professora.
A tese de Stela
Na pesquisa, intitulada "Um olhar discursivo desconstrutivo sobre os efeitos de ser professor de língua portuguesa no acontecimento da pandemia de Covid-19", Stela entrevistou dez professores egressos do curso de Letras - Português e Espanhol da UFFS - Campus Chapecó que atuaram no contexto de pandemia. Segundo ela, houve um deslocamento da pergunta que a acompanha “o que é ser professor de Português para quem já sabe Português?” pelo acontecimento da pandemia. “No momento da pandemia, a gente desloca um pouco o nosso modo de compreensão sobre o que é ser professor. Eu me desloquei para o que foi ser professor de Língua Portuguesa no acontecimento da Covid, para com isso poder olhar um pouco para os modos de subjetivação desses sujeitos, como os próprios professores se entenderam como professores nesse acontecimento, e que efeitos isso provocou nos seus modos de ser professor”.
Conforme ela, em um momento da tese, a partir do dizer dos professores entrevistados, há auto-provocações com perguntas: “como é que a gente pode pensar a formação inicial na graduação em Letras aqui no nosso campus, pensar a formação inicial, considerando elementos que vêm desses dizeres dos nossos egressos?” Ela cita que são aspectos na formulação do currículo, “em objetivos a serem deslocados, reconsiderados, que ajudem também a pensar o que a pandemia nos colocou em evidência sobre a formação de professores, principalmente no que está relacionado aos desafios, às dificuldades, aos enfrentamentos de ser professor num acontecimento para o qual ninguém estava preparado. Que ferramentas a gente pode pensar na formação de professores que justamente nos tranquilizem no que for possível para lidar com o inesperado, com o súbito, com o de repente, por uma prática de ensino que a gente pulou de paraquedas, do ensino presencial para o ensino remoto, tendo que, às vezes, ter uma atitude mais autoral e deslocando daquela prática que, em alguns casos, ainda é reprodutiva e com a qual a universidade e a formação inicial também trabalha bastante”.
A partir de elementos de sua trajetória de pesquisadora, de sua curiosidade com o acontecimento da pandemia e de uma década de graduação do curso (2010 a 2020), ela olhou para a formação inicial dos egressos que estão atuando como professores.
Alguns aspectos chamaram a atenção da pesquisadora com a investigação. O primeiro é a problematização da formação inicial. De certo modo, conforme ela, há os indicativos da avaliação institucional, da avaliação do curso, mas o “diálogo com o egresso, acho que ainda é uma ponte que se precisa ainda continuar na construção. Ele é importante para que a gente também entenda onde estão as lacunas da formação. Elas sempre vão existir, mas de que modo vamos atuar”.
Uma das questões que Stela considera que ficou mais latente com a pandemia é o ensino reprodutivo. “Por mais que a gente tenha quase 40 anos de políticas públicas institucionais, parâmetros curriculares, diretrizes, BNCC, no contexto da pandemia, no acontecimento da pandemia, o professor foi assolado, ele teve que mudar para um modelo de ensino, para um formato de ensino, e ele, o que foi possível naquele momento, foi muito mais reproduzido que produzido. E esse não é um desafio só da pandemia, mas é um desafio da formação de professores. Como pensar um perfil de professor autoral? Defendo isso porque eu particularmente tenho um olhar muito crítico com o papel do livro didático na sala de aula: ele ocupa muito esse lugar de autoria, de criatividade, que o professor pode ter. Esse é um lugar que é de potência para mais trabalho de investigação, mas também para desafios na própria formação inicial”.
A professora Ângela também aponta que é fundamental reforçar que as pesquisas são trabalhos feitos a muitas mãos. “Construímos isso dentro do PPGEL. Essa pesquisa, assim como as outras, está vinculada ao Fronteiras: Laboratório de Estudos do Discurso, que começamos a constituir em 2011, com a proposta do mestrado. Conseguimos efetivá-lo fisicamente pela sessão de um espaço pelo campus, e equipá-lo com recursos do edital do FINEP. No laboratório, temos grupos de pesquisa e grupos de estudo, e eu quero destacar um grupo de estudos no qual a Mary Stela é uma peça-chave, que é o Gelindi, Grupo de Estudos Linguagem, Discurso e Identidade. No grupo, discutimos pesquisas em andamento, discutimos também textos teórico-analíticos que interessam ao grupo como um todo e isso vai nos dando mais estofo conceitual e analítico para o desenvolvimento das pesquisas”.
Ela explica, ainda, que o projeto se insere num projeto guarda-chuva, de longa duração, que é o Ser-Estar Entre Línguas-Culturas: língua, identidade e formação de professores. Ele foi oficialmente instituído em 2018, mas a temática já vinha sendo desenvolvida pela professora desde 2010 na UFFS, e tem previsão de seguir até 2030. Então serão em torno de 20 anos de pesquisa nessa temática.
O projeto guarda-chuva, segundo a professora, congrega os projetos de pesquisa desde iniciação científica, TCC, mestrado, doutorado e pós-doutorado. Assim, estudantes da graduação vão aprendendo com pesquisadores mais experientes, “como a Mary Stela, que é uma peça fundamental dentro do grupo, por sua capacidade de reflexão teórico-analítica, pela sua experiência, por toda a sua trajetória. A pesquisa que ela desenvolve vem atendendo os objetivos importantes desse projeto, que é olhar para a formação de professores neste nosso locus, a área de abrangência da UFFS Chapecó, na qual buscamos trabalhar questões de política linguística, olhar para como circula a língua, como circulam as línguas indígenas, de imigrantes, língua portuguesa, língua estrangeira, e que imaginários são esses, para que a gente possa pensar consequências para a formação de professores”.
Em dezembro, Stela fecha 40 meses de doutorado. Sua defesa, portanto, será antes do tempo previsto. “Também tive oportunidade e o privilégio, pelas políticas da própria universidade, de poder cursar boa parte do meu doutorado com afastamento integral, e, com isso, me dedicar exclusivamente a esse trabalho”, finaliza.
Banca de defesa de tese
"Um olhar discursivo desconstrutivo sobre os efeitos de ser professor de língua portuguesa no acontecimento da pandemia de Covid-19"
Doutoranda: Mary Stela Surdi
05 de dezembro
14h
Auditório do Bloco B
Banca avaliadora
Orientadora e presidente:
Ângela Derlise Stübe
Membros externos:
Maria José Coracini (Unicamp)
Amanda Scherer (UFSM)
Beatriz Eckert-Hoff (Unfran e Cruzeiro do Sul)
Membro interno:
Aline Cassol Daga Cavalheiro (UFFS)
Suplentes:
Valdir Prigol (UFFS)
Caroline Schneiders (UFFS)
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