Pesquisa aponta estimativa de chapecoenses que já tiveram Covid-19
UFFS – Campus Chapecó tem professores e 32 estudantes do curso de Medicina envolvidos na investigação científica

Publicado em: 16 de julho de 2020 09h07min / Atualizado em: 16 de julho de 2020 16h07min

Em uma amostra de 391 chapecoenses, nove testaram positivo para Covid-19. Esse foi o resultado da primeira de seis etapas de uma pesquisa que vem sendo feita pela Prefeitura de Chapecó, Universidade Federal da Fronteira Sul (UFFS) – Campus Chapecó e Unochapecó.

O resultado demonstra que há uma taxa global de soroprevalência (ou seja, a frequência de indivíduos, dentro de uma população, que apresentam determinado elemento no soro sanguíneo – nesse caso, do novo coronavírus) de 2,30%. Com base na população chapecoense (estimativa mais recente de 222.375 pessoas), estima-se que 5.119 pessoas já tiveram contato com a Covid-19. Como o estudo tem margem de erro de 5%, o número de pessoas prevalentes, ou seja, que já tiveram contato com a doença, pode variar entre 4.863 e 5.375. A pesquisa demonstrou ainda a prevalência de pessoas de 50 a 59 anos que já tiveram contato com a doença. Os dados referem-se à última semana, já que o fechamento da primeira etapa foi no dia 8 de julho.

 

Os números são o resultado de uma pesquisa científica, uma constatação. Não podem ser considerados “positivos” ou “negativos”, até porque a investigação científica não visa criar juízos de valor.

Segundo os membros do grupo envolvido com o estudo, o trabalho interinstitucional converge esforços no sentido de proporcionar subsídios para a tomada de decisões por parte do poder público. “Com a pesquisa, o grupo gera dados que podem ser utilizados para pautar as decisões com base em evidências científicas e não em achismos”, afirma o pesquisador Junir Lutinski (Secretaria de Saúde e Unochapecó).

A médica e pesquisadora que iniciou o movimento para o desenvolvimento do trabalho, Camila Cassol Brum, ressalta que não há um consenso mundialmente aceito sobre a imunidade de grupo para o coronavírus, ou seja, a taxa de pessoas na população com anticorpos capaz de reduzir o contágio permanece indefinida. Seria o momento em que pessoas que já tiveram a doença ou estão vacinadas acabam “protegendo” quem ainda não teve. As especulações mais otimistas falam em 20 por cento da população, enquanto outras apontam para 60. Além disso, ainda não se sabe se a imunidade contra coronavírus é duradoura ou não, ressalta ela.

Se essa imunidade de grupo para o novo coronavírus estiver adequada, com 2,30% de soroprevalência, Chapecó estaria longe desse patamar – com diminuição das infecções ou mesmo um platô na curva de infecções.

O Boletim de Informações do Coronavírus, divulgado pela Prefeitura de Chapecó, trazia como confirmados, na data de 8 de julho, 3.047 casos. “Os artigos científicos têm apontado que um número de casos importante acaba não sendo identificado, tendo por base as recomendações de testagem que se tem durante os períodos. Assim, a estimativa da pesquisa é de que quase o dobro dos confirmados pela Prefeitura (efetivamente testados) tenham sido contaminados, número que está totalmente dentro do contexto”, frisa a médica.

A professora do curso de Medicina da UFFS – Campus Chapecó Andréia Cardoso Machado destaca que a pesquisa ainda terá seis etapas, totalizando 2.322 pessoas testadas. No mesmo sentido, a estudante de Medicina da Instituição Kássia Kramer aponta que é muito cedo para avaliar e que, somente com a primeira etapa finalizada, é muito cedo para falar da curva do contágio. “Ao final das seis etapas conseguiremos ter mais clareza quanto à curva de contágio, se teremos um pico ou se já o passamos, mas por enquanto é muito precoce falar sobre isso”, aponta.

A pesquisa

O apelo de todos os pesquisadores é que quem for sorteado realmente seja testado. Além de todos os protocolos de segurança nos locais de coleta serem seguidos, como a não aglomeração, a pessoa contribuirá para que o município tenha dados científicos para a tomada de decisões. Por fim, a pessoa pode fazer o teste gratuitamente.

O trabalho que vem sendo desenvolvido foi iniciativa de um grupo de médicos, que levou a ideia à Secretaria de Saúde e à Prefeitura de Chapecó e, ao mesmo tempo, buscou a parceria da UFFS – Campus Chapecó e da Unochapecó.

Atualmente estão envolvidos no trabalho 14 pesquisadores. O trabalho, que iniciou há pelo menos três meses, segue intenso: o grupo de pesquisadores dialoga diariamente por aplicativos e realiza pelo menos duas reuniões por semana.

Uma parte desses pesquisadores, incluindo a estudante Kássia e outras duas alunas da UFFS – Campus Chapecó (Maria Joana Carvalho Silva e Yasmin Paula Cesco), ficou responsáveis pela escrita do projeto. Ele foi submetido e aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa com Seres Humanos da Universidade Federal da Fronteira Sul – Campus Chapecó.

Para estimar o percentual da população chapecoense que já tem anticorpos contra o novo coronavírus, os testes vêm sendo feitos em uma amostra estratificada – dividida por áreas do município, por faixas etárias e sexo – que seja representativa da população total do município.

A partir dos dados disponíveis nos programas do SUS do município, as pessoas foram sorteadas para a testagem. As ligações, realizadas posteriormente, são possíveis devido a um aplicativo, com a disponibilização das linhas telefônicas da UFFS.

Todos os contatos vêm sendo feitos remotamente pelos estudantes de Medicina: 32 da UFFS – Campus Chapecó e dois da Unochapecó. “A pesquisa não seria possível sem esse empenho e a dedicação dos estudantes”.

Para a ligação, há um protocolo. Primeiro, os estudantes falam sobre a pesquisa e leem um termo de consentimento. Depois, passam a questionar sobre a saúde da pessoa e fazem o agendamento da testagem.

Conforme Kássia, ela, Maria e Yasmin estão mais na supervisão, na resolução de problemas e no apoio aos demais colegas. Mas, diariamente, os estudantes atuam da manhã até a noite para dar conta dos agendamentos e demais ações necessárias como a alimentação de tabelas, o sorteio de novos participantes, quando necessário, e o atendimento de ligações sobre dúvidas quanto à pesquisa.

“Para mim, está sendo uma experiência enriquecedora. Tenho a possibilidade de ver com outros olhos como funciona a doença. Penso que é muito importante na minha trajetória acadêmica e enquanto futura profissional”, afirma.

Conforme os pesquisadores, a segunda etapa está em andamento e as testagens já devem ser finalizadas nos próximos dias.

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