Comunidade acadêmica pode participar de práticas integrativas e complementares
Todas as segundas-feiras, por exemplo, há práticas de yoga e meditação

Publicado em: 03 de setembro de 2019 12h09min / Atualizado em: 04 de setembro de 2019 10h09min

O ritmo de provas, trabalhos e eventos é intenso durante os semestres letivos. Mas em meio a tantas leituras, discussões e correria, um conhecimento diferente é disseminado em uma das salas do Laboratório 2, todas as segundas-feiras: o AUTOconhecimento. São vivências de yoga e meditação com duração de uma hora e meia, abertas a todos os interessados.

A atividade faz parte do Projeto de Extensão em Saúde Coletiva: Racionalidades Médicas e Práticas Integrativas e Complementares em Saúde (LABPICS), coordenado pela professora de Medicina Maria Eneida de Almeida. Segundo a professora, o objetivo do projeto é “fortalecer as atividades de extensão na área de conhecimento Saúde Coletiva, dando oportunidade para a comunidade acadêmica e comunidade regional se integrarem em momentos de relaxamento e concentração no Campus Chapecó, ao mesmo tempo em que novas práticas de promoção da saúde são conhecidas, contribuindo para o aumento da qualidade de vida dos participantes”.

Para as práticas, há uma parceria com a Organização Internacional Ananda Marga – os facilitadores fazem parte da Organização. No primeiro semestre de 2019, as atividades foram orientadas por Amartya Deva e, agora, Jivan Deva é o facilitador (orientado por Amartya Deva).

O projeto é ligado à disciplina regular e a uma optativa do curso de Medicina. Conforme a professora, há uma certa resistência por parte dos estudantes. “O curso de Medicina desta universidade tem como base dos três primeiros anos a Saúde Coletiva – trazendo problemas sociais para sala de aula e mostrando que isso é importante para se entender o que é o processo saúde-doença que eles vão encontrar nos hospitais e consultórios e hospitais lá na frente, e que esse entendimento é fundamental para a qualidade de vida e para a promoção da saúde – além do entendimento do mundo e de outra visão que não somente a técnica. Isso, muitas vezes, é um impacto. O objetivo fundamental desse projeto e da minha atividade nesse campo é mostrar aos estudantes que não existe uma Medicina só, porque nosso curso, apesar da abertura, segue o modelo tradicional brasileiro, voltado à doença, à cura, aos tratamentos, aos medicamentos, às tecnologias”.

Conforme a professora, na disciplina regular, os estudantes entendem outros sistemas complexos de saúde e a Política de Saúde. “A Política, que está em todo o país, permite que os usuários do SUS tenham acesso a grupos, por exemplo, de yoga e meditação ou tratamentos com acupuntura, auriculoterapia e outras técnicas de medicina chinesa – mocha, ventosa”. Já no componente curricular optativo, depois das aulas, a professora ressaltou que não houve nenhuma resposta negativa na avaliação.

Para ela, no Ocidente, “há um problema que precisa ser entendido: nossa ciência ocidental é tida como a única voz da verdade, e isso está na cultura daqui, especialmente a partir da ciência moderna, com as grandes maravilhas que a ciência moderna fez no campo das doenças, da bacteriologia, da imunologia. Só que, existe um complexo médico industrial que – formado pela indústria farmacêutica e a corporação médica, que é estudado em teses e livros – domina o pensamento das pessoas, manipula o senso comum. Para se quebrar isso é bastante difícil. O objetivo da Medicina Oriental é o equilíbrio. A Medicina Ocidental também, mas com intervenção – medicamentosa, cirúrgica. Então, a partir do momento que tem algo cada vez mais valorizado na clínica ampliada, que é a escuta, o acolhimento, a estrutura tão pesada decorrente da ciência moderna, que dá base para nossos cursos da área da saúde, também vem mudando”.

Segundo a professora, desde 1986, numa Conferência Nacional de Saúde, práticas começaram a ser implantadas. Depois, todas as conferências subsequentes melhoraram e ampliaram a proposta. Houve um crescimento da questão e, em 2006, foi lançada a Política Nacional de Práticas Integrativas e Complementares, quando começaram a se estruturar dentro do sistema de saúde.

Desde então, para a professora, os paradigmas vêm sendo quebrados, com a sociedade ganhando conhecimento sobre outros sistemas médicos. “As pessoas estão não só precisando, mas também pedindo alternativas de promoção da saúde que fujam da medicalização excessiva. Isso é um clamor social atualmente”, pontua ela.

O instrutor da atividade, Amartya Deva, comenta que no início, algumas pessoas buscam conhecer, mais por curiosidade. “Mas quando vêm, percebem que não é aquilo que imaginavam. Alguns, pensam que são somente posturas e passam a entender que é muito mais que isso. Nos primeiros encontros falamos e desmistificamos várias questões: que os benefícios vão muito além do corpo. Muitos saem mais leves, mais alegres, com semblante de agradecimento e realização. Alguns relatos são de respiração melhor e qualidade do sono, por exemplo”.

Uma das pessoas que já sente melhoras é a estudante Anne Liss Weiler. Ela conta que já conhecia algumas práticas integrativas que compõem o SUS e, então, resolveu participar da yoga e da meditação para vivenciar os benefícios comprovados por essas práticas. “Está sendo ótima a experiência, me sinto mais confiante e vivo mais o presente, mais concentrada em minhas atividades diárias e mais focada em meus objetivos, além disso a prática me lembra da importância do autocuidado com o meu corpo”.

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