Estudantes do Campus Cerro Largo provenientes de outros estados e que permanecem na cidade enfrentam desafios diversos durante a pandemia
Dentre os desafios está a solidão, rotina de estudos e preocupações financeiras. Eles estão recebendo auxílio complementar da UFFS.

Publicado em: 13 de julho de 2020 11h07min / Atualizado em: 13 de julho de 2020 15h07min

A pandemia causada pela Covid-19 tem trazido uma série de desafios para a sociedade, tanto financeiros como emocionais, e nos impõe mudanças radicais na rotina. Na UFFS, os servidores passaram a trabalhar em casa, no chamado trabalho remoto, e o Calendário Acadêmico de 2020 está temporariamente suspenso. Com isso, as aulas presenciais também foram suspensas, desde o dia 18 de março. Grande parte dos alunos, cujas famílias moram perto de Cerro Largo, voltou ao lar de origem. No entanto, muitos deles estão na cidade. E os motivos são diversos, entre eles, a precariedade de orçamento para se deslocar para outros estados e a esperança, aliada à incerteza, do reinício das aulas.

É o caso do estudante de Ciências Biológicas Geovan Rodrigues que veio do Pará (PA). Ele tinha acabado de chegar na cidade, é calouro do curso e, hoje, sente-se sozinho. O período de isolamento está “sendo ruim” segundo ele, já que ficou doente durante um período e teve de se cuidar sem o auxílio de outra pessoa. “Não tinha ninguém para estar ao meu lado. Choro quase todos os dias”, relata. Financeiramente, Geovan afirma estar “sobrevivendo” já que recebe auxílio da Universidade. Por outro lado, o isolamento tem trazido reflexões importantes para ele já que pensa em realizar algum trabalho social “para poder ajudar jovens que se encontram em situações parecidas ou piores que a minha, pois é a forma mais inteligente de ocupar minha mente: ajudando o próximo”, ressalta o estudante.

É assim para quem está começando o curso e também é para quem está terminando sua graduação. Como para Géssica Kupski, que está no 9º semestre de Agronomia. Ela, que também morava no Pará, resolveu permanecer em Cerro Largo mesmo com as aulas suspensas, pois, além de falta de condições financeiras, está no período de realização do trabalho de conclusão de curso (TCC). A estudante não vê seus pais desde 2016, quando veio estudar na UFFS. De acordo com Géssica, o período de recolhimento “está bem estranho, perdi o foco nos estudos. Fazia bicos em um trabalho que agora também não tem. Fico esperando que tudo melhore, um dia após o outro”.

"É mais seguro continuar em Cerro Largo"

O estudante Matheus Araújo do Amaral está nas fases finais do curso de Engenharia Ambiental e Sanitária e, para ele, “foi chocante” receber a notícia da suspensão das aulas. Sua família é de Caraguatatuba, em São Paulo. Ele decidiu ficar porque temia um possível contágio da doença, já que, no estado de São Paulo, o número de contaminados é mais alto. “É mais seguro continuar em Cerro Largo”. Com a rotina de estudos reduzidos, ele se dedica às atividades do programa de extensão do qual participa, que também passou por adaptações para o formato homeoffice, e adianta a escrita do seu TCC. “Penso nos estudantes que não têm acesso à internet ou mesmo com algum acesso não teriam condições de estudar em suas casas. O estudo só em casa é complicado. Exigem uma boa gestão do tempo e organização das tarefas pessoais, profissionais e de estudo”, opina Matheus. Financeiramente, Matheus relata que a alimentação tem sido seu maior gasto, já que, no momento, não há fornecimento de refeições pelo Restaurante Universitário (RU). No entanto, reafirma a importância do auxílio complementar que a UFFS tem oferecido neste período.

Matheus, que se considera bem sociável, afirma que não ver os colegas é um fator bem difícil. “Ficar sem ver os colegas e amigos. Eu sou bem sociável, então faz muita falta não poder vê-los pessoalmente, cumprimentar, abraçar como era antes dos efeitos dessa pandemia”, desabafa. Além disso, “antes eu tinha a sensação de que estava fazendo a diferença no mundo. Agora parece que as coisas pararam de repente e estamos vivendo outra realidade, às vezes bem difícil de aceitar. Mas vamos torcer para sairmos logo – e melhor – dessa, se Deus (ou o Universo) nos permitir”, afirma esperançoso.

Para a também estudante de Engenharia Ambiental e Sanitária, Ingrid de Camargo Soffner, cuja família é de Dois Córregos, em São Paulo, a decisão de ficar em Cerro Largo surgiu da incerteza da volta às aulas. “Além disso, a viagem até minha cidade é cansativa e cara. E caso voltasse logo as aulas, precisaria estar aqui, então optei por ficar”, conta. Ingrid afirma que sua rotina mudou bastante desde o início do recolhimento: “No começo estava até empolgada, acordando cedo e tentando me manter atualizada com os estudos das matérias, depois, a incerteza da volta às aulas, fui deixando as matérias de lado. Conforme foi passando o tempo não via razão para começar o dia cedo. Hoje estou acordando tarde e dormindo tarde. Agora, com o frio, quase nem levanto para fazer comida também.


Yoga e meditação para o equilíbrio emocional

Para Vitor Brunow da Silva, cuja família é de Belo Horizonte (MG), foram três os motivos de ter permanecido em Cerro Largo: “Primeiro, a cidade é pequena e mais tranquila, assim o risco de contaminação é menor; Segundo, meu aluguel, mesmo estando longe, teria que continuar pagando sem estar no local; Terceiro, a dificuldade de locomoção e valores de passagem”. O estudante de Engenharia Ambiental e Sanitária decidiu ver as circunstâncias de uma maneira mais positiva, pois apenas teve de readaptar sua rotina. “Isso não dificultou meus estudos e, com a pandemia, surgem inúmeros cursos, palestras e oportunidade totalmente sem custo, que proporcionam a continuidade nos estudos e pesquisas”.

Para o equilíbrio emocional, ele afirma que está aproveitando o isolamento para praticar yoga, meditação e autoconhecimento. “Estou treinando hábitos alimentares melhores, sem contar a oportunidade de executar algumas receitas de meu gosto. Também estou fazendo em média 2 a 3 treinos por dia, incluindo calistenia, yoga e hit”. Vitor participa de um projeto em parceria com o Setor de Assuntos Estudantis (SAE) do Campus, em que realiza lives de Yoga para todos os campi. As lives ocorrem nas terças-feiras, às 19h.

Além disso, o que o ajuda a se manter equilibrado é a presença da namorada, que também é de outro estado, Rio de Janeiro, e não pôde retornar para casa.
Vitor aproveita para passar sua mensagem: “espero que todos aprendam com essa pandemia que não é só o nosso ego, vontades e desejos que devem ser satisfeitos. O mundo é para todos e a caminhada para que ele seja melhor é longa e cansativa, então não vamos desanimar por causa de um vírus ou qualquer impacto negativo que possa ser revertido e tentar nunca repetir os erros”, destaca.


Acolhimento de medos e preocupações

As atitudes de Vitor vão ao encontro do que a psicóloga da UFFS – Campus Cerro Largo Elenice Scheid recomenda como importante para lidar com esse momento. “É importante investir em estratégias de cuidado psíquico como: “acolher seus receios e medos, procurando pessoas de confiança para conversar; retomar estratégias e ferramentas de cuidado que tenha usado em momentos de crise ou sofrimento; investir em exercícios e ações que auxiliem na redução do nível de estresse (meditação, leitura, exercícios de respiração, exercícios físicos, yoga etc.); reduzir a leitura ou o contato com notícias que podem causar ansiedade ou estresse. Importante lembrar que o distanciamento social é diferente de distanciamento afetivo, por isso, mantenha contato virtual com a sua rede socioafetiva”.

Elenice explica por que está sendo tão difícil lidar principalmente com as emoções neste período: “a mudança brusca nas atividades do dia a dia, como na rotina estudos, trabalho e convívio social, por vezes sem previsão de quando ocorrerá o retorno à “vida normal”, pode provocar sofrimento e insegurança, visto que é preciso lidar com o futuro imprevisível”. Além disso, segundo ela, o distanciamento social, sem as interações face a face tende a gerar sensação de isolamento emocional e de privação de liberdade. Essas sensações aliada a outras preocupações como com a própria saúde, com a saúde dos familiares e preocupações econômicas, “podem gerar solidão, desesperança, ansiedade, exaustão, irritabilidade, tédio, raiva e sensação de abandono, tristeza”.

A psicóloga também ressalta que, caso as estratégias não estejam sendo suficiente para o processo de estabilização emocional, busque auxílio de um profissional de saúde mental. O SAE disponibiliza acolhimento psicológico on-line. Para agendar um horário, basta encaminhar e-mail para: elenicescheid@uffs.edu.br. Ainda, Elenice indica o Centro de Valorização da Vida (CVV), que oferece apoio emocional pelo telefone 188. “Cuidar da sua saúde mental e do seu bem-estar psicossocial neste momento é tão importante quanto cuidar da sua saúde física”, conclui.

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